sexta-feira, 21 de setembro de 2012


O mundo de hoje precisa de sinais claros e fortes de diálogo e cooperação


As palavras de Bento XVI na Audiência Geral de quarta-feira



Caros irmãos e irmãs,
Hoje gostaria de voltar brevemente, com o pensamento e com o coração, aos extraordinários dias da viagem apostólica que fiz ao Líbano. Uma viagem que eu realmente queria, apesar das circunstâncias difíceis, considerando que um pai deve estar sempre próximo aos seus filhos quando encontram graves problemas. Fui movido pelo desejo verdadeiro de anunciar a paz que o Senhor ressuscitado deixou aos seus discípulos com as palavras: “Vos dou a minha paz - سَلامي أُعطيكُم » (João 14,27). Esta minha Viagem tinha como propósito principal a assinatura e entrega da Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente aos representantes da Comunidades católicas do Oriente Médio, assim como a outras Igrejas e Comunidades eclesiais e também aos Chefes muçulmanos.

Foi um evento eclesial comovente e, ao mesmo tempo, uma ocasião providencial de diálogo vivido em um país complexo, mas emblemático para toda a região, por motivo de sua tradição de convivência e de eficaz colaboração entre os diversos componentes religiosos e sociais. Diante dos sofrimentos e dos dramas que permanecem naquela região do Oriente Médio, manifestei a minha sincera proximidade às aspirações legítimas daquelas queridas populações, levando a eles uma mensagem de encorajamento e de paz. Penso particularmente no terrível conflito que atormenta a Síria, causando, além de milhares de mortes, um fluxo de refugiados que se dispersam na região procurando desesperadamente segurança e futuro; e não esqueço a difícil situação do Iraque. Durante a minha visita, o povo do Líbano e do Oriente Médio – católicos, representantes de outras Igrejas e Comunidades eclesiais e de diversas Comunidades muçulmanas – viveu, com entusiasmo e em um clima descontraído e construtivo, uma importante experiência de respeito recíproco, de compreensão e de fraternidade, que constituem um forte sinal de esperança para toda a humanidade. Mas foi sobretudo o encontro com os fiéis católicos do Líbano e do Oriente Médio, numerosamente presentes, que despertou em minha alma um sentimento de profunda gratidão pelo ardor da fé deles e de seu testemunho.
Agradeço ao Senhor por este dom precioso, que dá esperança para o futuro da Igreja naqueles territórios: jovens, adultos e famílias motivados pelo forte desejo de enraizarem suas vidas em Cristo, permanecerem ancorados ao Evangelho, caminharem juntos na Igreja. Renovo o meu reconhecimento também àqueles que trabalharam incansavelmente por esta minha Visita: os Patriarcas e os Bispos do Líbano com seus colaboradores, a Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, as pessoas consagradas, os fiéis leigos, que são uma realidade preciosa e significativa na sociedade libanesa. Pude constatar que as Comunidades católicas libanesas, mediante sua presença milenar e seu empenho cheio de esperança, oferecem uma significativa e valiosa contribuição no dia-a-dia de todos os habitantes do País. Um pensamento grato e respeitoso vai para as Autoridades libanesas, às instituições e associações, aos voluntários e a quantos ofereceram o apoio da oração. Não posso esquecer a cordial acolhida que recebi do Presidente da República, Senhor Michel Sleiman, bem como de várias partes do País e do povo: foi uma acolhida calorosa, segundo a famosa hospitalidade libanesa. Os muçulmanos me acolheram com grande respeito e sincera consideração, sua constante e participante presença deram-me a oportunidade de deixar uma mensagem de diálogo e de colaboração entre Cristianismo e Islamismo: acho que chegou o momento de dar juntos um testemunho sincero e decisivo contra as divisões, contra a violência, contra as guerras. Os católicos, vindos também de Países vizinhos, manifestaram com fervor o seu profundo afeto ao Sucessor de Pedro.
Depois da bela cerimônia na minha chegada ao aeroporto de Beirute, o primeiro encontro foi de particular solenidade: a assinatura da Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente, na Basílica Greco-Melkita de São Paulo em Harissa. Naquela circunstância convidei os católicos do Oriente Médio a fixarem o olhar em Cristo crucificado para encontrarem a força, também em contextos difíceis e dolorosos, de celebrar a vitória do amor sobre o ódio, do perdão sobre a vingança e da unidade sobre a divisão. A todos assegurei que a Igreja universal está mais perto do que nunca, com o afeto e a oração, às Igrejas no Oriente Médio: esses, mesmo sendo um “pequeno rebanho”, não devem temer, na certeza de que o Senhor está sempre com eles. O Papa não os esquece.
No segundo dia da minha Viagem apostólica encontrei os representantes das Instituições da República e do mundo da cultura, o Corpo diplomático e os Chefes religiosos.A esses, dentre outros, apontei uma via para promover um futuro de paz e de solidariedade: trata-se de trabalhar para que as diferenças culturais, sociais e religiosas cheguem, com o diálogo sincero, em uma nova fraternidade, onde aquilo que une é o sentimento compartilhado de grandeza e dignidade de cada pessoa, cuja vida deve ser sempre defendida e protegida.Nessa mesma jornada tive um encontro com os Chefes das Comunidades religiosas muçulmanas, que se desenvolveu em um espírito de diálogo e de benevolência recíproca. Agradeço a Deus por este encontro. O mundo de hoje precisa de sinais claros e fortes de diálogo e cooperação, do que o Líbano tem sido e deve continuar a ser um exemplo para os países árabes e para o resto do mundo.

À tarde, na residência do Patriarca Maronita, fui recebido com grande entusiasmo por milhares de jovens libaneses e de Países vizinhos, que deram vida a um festivo e orante momento, que permanecerá inesquecível nos coração de muitos. Destaquei a sorte deles de viver naquela parte do mundo que viu Jesus, morto e ressuscitado pela nossa salvação, e o desenvolvimento do cristianismo, exortando-os à fidelidade e ao amor por sua terra, apesar das dificuldades causadas pela falta de estabilidade e segurança. Também os encorajei a serem firmes na fé, confiantes em Cristo, fonte da nossa alegria, e a aprofundarem um relacionamento pessoal mais profundo com Ele na oração, bem como estarem abertos para os grandes ideais de vida, da família, da amizade e da solidariedade.Vendo jovens cristãos e muçulmanos fazendo festa em grande harmonia, encorajei-os a construírem juntos o futuro do Líbano e do Oriente Médio e a oporem-se juntos à violência e à guerra. A concórdia e a reconciliação devem ser mais forte do que as forças da morte. 

Na manhã de domingo, houve um momento muito intenso e participativo na Santa Missa no City Center Waterfront de Beirute, acompanhada de cantos evocativos, que caracterizaram também as outras celebrações. Na presença de numerosos Bispos e de uma multidão de fiéis, provenientes de todas as partes do Oriente Médio, quis exortar todos a viverem a fé e a testemunhá-la sem medo, com a consciência de que a vocação do cristão e da Igreja é aquela de levar o Evangelho a todos sem distinção, a exemplo de Jesus. Em um contexto marcado por severos conflitos, chamei a atenção para a necessidade de servir a paz e a justiça, tornando-se instrumentos de reconciliação e construtores de comunhão.Ao término da Celebração eucarística, tive a alegria de entregar a Exortação Apostólica que reúne as conclusões da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio. Através dos Patriarcas e dos Bispos orientais e latinos, os sacerdotes, os consagrados e os leigos, este Documento quer alcançar todos os fiéis daquela querida região, para sustentá-los na fé e na comunhão e levá-los ao tão desejado caminho da nova evangelização. À tarde, na sede do Patriarcado Sírio-católico, tive, então, a alegria de um fraterno encontro ecumênico com os Patriarcas ortodoxos e ortodoxos orientais e representantes daquelas Igrejas, assim como das Comunidades eclesiais.

Caros amigos, os dias passados no Líbano foram uma estupenda manifestação de fé e de intensa religiosidade e um sinal profético de paz.A multidão de crentes provenientes de todo o Oriente Médio teve a oportunidade de refletir, de dialogar e, sobretudo, de rezar juntos, renovando o empenho de enraizar a própria vida em Cristo. Tenho certeza de que o povo libanês, em sua multiforme, mas sólida composição religiosa e social, saberá testemunhar com um novo apreço a verdadeira paz, que nasce da confiança em Deus. Desejo que as várias mensagens de paz e de estima que quis dar, possam ajudar os governantes das regiões a darem passos decisivos em direção a paz e a uma melhor compreensão das relações entre cristãos e muçulmanos. Da minha parte, continuo a acompanhar aquela amada população com a oração, de modo que permaneçam fiéis aos compromissos assumidos. Com a materna intercessão de Maria, venerada em tantos antigos santuários libaneses, confio os frutos desta Visita pastoral, como também os bons propósitos e as justas aspirações de todo o Oriente Médio. Obrigado

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