sexta-feira, 31 de agosto de 2012

 Azeitonas Espremidas

"E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito" (Romanos 8:28).


"Eu me regozijo em saber que... Não existe azeite sem
espremer as azeitonas, Nem vinho sem espremer as uvas, Nem
fragrância sem esmagar as flores e nem uma alegria real sem aflições."



É a vitória sobre as angústias, sofrimentos e aflições que
produz os maiores momentos de alegria. É a luta contra as
dúvidas e incertezas que nos conduz à verdadeira esperança e
fé. É a capacidade de ficar firme diante do ódio e das
perseguições que valoriza as nossas atitudes de amor. É
quando somos pequenos que realmente nos tornamos grandes. É
quando nos apresentamos com humildade diante de Deus que
somos exaltados.

Os discípulos enfrentaram, com pavor, a tempestade no Mar da
Galileia para entender que na presença do Senhor há paz e
bonança. Pedro tremeu diante dos que prenderam a Jesus,
negou-o mais de uma vez, para poder ouvir o galo cantar e,
finalmente, converter-se verdadeiramente. O apóstolo Paulo
foi preso e, da prisão, escreveu Epístolas que hoje fazem
parte das Escrituras Sagradas. O nosso Senhor foi rejeitado,
foi traído, foi crucificado, e, por causa de tudo isso,
ganhou para nós a vitória completa... para sempre.

Não gostamos de sofrimentos; não gostamos de passar por
deceções; não gostamos de esperar a bênção que parece
demorar demais... Mas, Deus tem seus planos, têm seu tempo
determinado, tem Sua maneira própria de agir. Sabemos que
tudo que Ele faz ou permite acontecer, é para o nosso bem,
para o nosso prazer, para a nossa edificação. Ele é nosso
melhor Amigo, é nosso companheiro de todas as horas, é o
Senhor de nossas vidas.

Se nos sentimos como azeitonas espremidas, confiemos em Deus
e a nossa vitória logo chegará.


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Evangelho segundo S. Mateus 24,42-51.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.

Ficai sabendo isto: Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa.
Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais.»
«Quem julgais que é o servo fiel e prudente, que o senhor pôs à frente da sua família para os alimentar a seu tempo?

Feliz esse servo a quem o senhor, ao voltar, encontrar assim ocupado.
Em verdade vos digo: Há-de confiar-lhe todos os seus bens.
Mas, se um mau servo disser consigo mesmo: 'O meu senhor está a demorar’,
e começar a bater nos seus companheiros, a comer e a beber com os ébrios,
o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e à hora que ele desconhece;
vai afastá-lo e dar-lhe um lugar com os hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes.»
 CASTEL GANDOLFO, quarta-feira, 29 de agosto de 2012 – Reproduzimos a seguir as palavras do Santo Padre na catequese desta manhã.

Caros irmãos e irmãs,
Nesta última quarta-feira de agosto, celebramos a memória litúrgica do martírio de São João Batista, o precursor de Jesus. No calendário romano, ele é o único santo de quem se recorda o nascimento, em 24 de junho, e também a morte, ocorrida por meio do martírio.
É uma memória que remonta à dedicação de uma cripta de Sebaste, na Samaria, onde, já em meados do século IV, era venerada a sua cabeça. O culto se espalhou para Jerusalém, para as Igrejas do Oriente e para Roma, com o título de Decapitação de São João Batista.
O Martirológio Romano faz referência a uma segunda descoberta da preciosa relíquia, transportada, na ocasião, até a igreja de São Silvestre em Campo Marzio, Roma.
Essas pequenas referências históricas nos ajudam a entender o quanto é antiga e profunda a veneração de João Batista. Os evangelhos destacam muito bem o seu papel em relação a Jesus. Em particular, São Lucas narra o seu nascimento, a vida no deserto, a pregação, e São Marcos nos fala da sua morte trágica, no evangelho de hoje.

João Batista inicia a sua pregação sob o imperador Tibério, em 27-28 d.C., e o claro convite que ele faz às pessoas que se reúnem para ouvi-lo é o de prepararem o caminho para acolher o Senhor, para endireitar as tortuosas estradas da vida através de uma mudança radical do coração (cf. Lc 3, 4).
O Batista não se limita, porém, a pregar a penitência e a conversão. Reconhecendo Jesus como o "Cordeiro de Deus" que veio tirar o pecado do mundo (Jo 1, 29), ele tem a profunda humildade de mostrar em Jesus o verdadeiro Enviado de Deus, afastando-se para que Cristo cresça e seja ouvido e seguido. O Batista testemunha com o sangue a sua fidelidade aos mandamentos de Deus, sem ceder nem retroceder, cumprindo até o fim a sua missão.
São Beda, monge do século IX, assim o diz nas suas Homilias: São João, por Cristo, deu a vida, embora não tenha sido obrigado a negar a Cristo, mas apenas a calar a verdade. E ele não calou a verdade e assim morreu por Cristo, que é a Verdade. Precisamente por amor da verdade, ele não se comprometeu com os seus próprios interesses e não teve medo de bradar palavras fortes àqueles que tinham se perdido da estrada de Deus.
Vemos agora esta grande figura, esta força na paixão, na resistência contra os poderosos. Perguntemos: de onde nasce esta vida, esta interioridade tão forte, tão reta, tão coerente, desgastada tão completamente por Deus para preparar o caminho para Jesus?
A resposta é simples: da relação com Deus, da oração, que é o fio condutor de toda a sua existência. João é o dom de Deus por muito tempo invocado pelos seus pais, Zacarias e Isabel (cf. Lc 1:13); um grande dom, humanamente inesperável, porque ambos eram avançados em anos e Isabel era estéril (cf. Lc 1:7); mas nada é impossível para Deus (cf. Lucas 1:36).

O anúncio deste nascimento ocorre no próprio lugar da oração, no templo de Jerusalém, e justamente quando cabe a Zacarias o grande privilégio de adentrar no lugar mais sagrado do templo para queimar incenso ao Senhor (cf. Lc 1, 8-20). O nascimento de João Batista é marcado pela oração: o cântico de louvor, de alegria e de ação de graças, que Zacarias eleva ao Senhor e que recitamos todas as manhãs nas laudes, o Benedictus, exalta a ação de Deus na história e mostra profeticamente a missão do seu filho João: preceder o Filho de Deus feito carne a fim de preparar os seus caminhos (cf. Lc 1,67-79).
Toda a existência do Precursor de Jesus é alimentada por um relacionamento com Deus, especialmente no tempo transcorrido no deserto (cf. Lc 1,80). As regiões desertas são o lugar da tentação, mas também o lugar onde o homem sente a própria pobreza, pela falta de apoios e de seguranças materiais. Ali ele entende que o único ponto de referência sólido é o próprio Deus. João Batista não é, porém, apenas homem de oração e de contato constante com Deus, mas também um guia para esta relação. O evangelista Lucas, transcrevendo a oração que Jesus ensinou aos seus discípulos, o pai-nosso, observa que o pedido é feito pelos discípulos com estas palavras: "Senhor, ensina-nos a orar, assim como João ensinou aos seus discípulos" (cf. Lc 11, 1).

Queridos irmãos e irmãs, o martírio de São João Batista recorda a todos nós, cristãos de hoje, que não podemos comprometer o amor de Cristo, a sua Palavra, a Verdade. A Verdade é a Verdade, não tolera compromissos com interesses particulares. A vida cristã exige, por assim dizer, o "martírio" da fidelidade diária ao evangelho, que é a coragem de deixar que Cristo cresça em nós e direcione o nosso pensamento e as nossas ações.
Mas isto só pode acontecer em nossa vida se for sólido o nosso relacionamento com Deus. A oração não é um desperdício de tempo, não é roubar espaço de outras atividades, nem mesmo das atividades apostólicas. É exatamente o contrário: somente se formos capazes de ter uma vida de oração fiel, constante, confiante, o próprio Deus nos dará a força e a capacidade para vivermos felizes e em paz, para superarmos as dificuldades e testemunhá-lo com coragem.
São João Batista interceda por nós, para que possamos manter sempre a primazia de Deus na nossa vida. Obrigado.

terça-feira, 28 de agosto de 2012


"A fé não é um projeto, mas encontrar a Cristo como pessoa viva"


No Ângelus de hoje, Bento XVI exortou os fiéis a não pararem nas preocupações materiais cotidianas, mas aceitarem os planos de Deus e melhorarem o relacionamento com Ele.

***
Queridos irmãos e irmãs,
Na Liturgia da Palavra deste domingo continua a leitura do capítulo 6º do Evangelho de João. Estamos na sinagoga de Cafarnaum, onde Jesus está dando o seu famoso discurso depois da multiplicação dos pães. As pessoas tentaram fazê-lo rei, mas Jesus havia se retirou, primeiro sobre o monte com Deus, com o Pai, e depois em Cafarnaum.
Não vendo-o, começaram a buscá-lo, subiram em barcas para chegar à outra margem do lago e finalmente o encontraram. Mas Jesus sabia bem o motivo de tanto entusiasmo ao segui-lo e também o diz com clareza: vós “me procurais não porque vistes sinais [porque o vosso coração ficou impressionado], mas porque comestes dos pães e ficastes satisfeitos” (v. 26).
Jesus quer ajudar as pessoas a ir além da satisfação imediata das próprias necessidades materiais, também importantes. Quer abrir-lhes um horizonte de existência que não é simplesmente aquele das preocupações cotidianas do comer, do vestir, da carreira. Jesus fala de uma comida que não perece, que é importante buscar e acolher. Ele afirma: "Trabalhem não pela comida que não dura, mas pela comida que permanece para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará” (v. 27).

A multidão não entende, acredita que Jesus pede a observância dos preceitos para poder obter a continuação desse milagre, e pergunta: "O que devemos fazer para realizar as obras de Deus?" (V. 28). A resposta de Jesus é clara: "Esta é a obra de Deus: que creiais naquele que ele enviou" (v. 29). O centro da existência, o que dá sentido e firme esperança no caminho muitas vezes difícil da vida é a fé em Jesus, o encontro com Cristo. Também nós perguntamos: "O que devemos fazer para herdar a vida eterna?". E Jesus disse: "acredite em mim."
A fé é a coisa fundamental. Não se trata aqui de seguir uma idéia, um projeto, mas de encontrar a Jesus como uma Pessoa viva, de deixar-se envolver totalmente por Ele e pelo seu Evangelho. Jesus convida a não parar no horizonte puramente humano e a abrir-se para o horizonte de Deus, para o horizonte da fé. Ele exige uma única obra: acolher o plano de Deus, ou seja, “crer naquele que ele enviou” (v. 29).
Moisés tinha dado a Israel o maná, o pão do céu, com o qual o próprio Deus tinha alimentado o seu povo. Jesus não dá qualquer coisa, dá a Si mesmo: é Ele o "verdadeiro pão que desceu do céu", Ele, a Palavra Viva do Pai; no encontro com Ele encontramos o Deus vivo.

"O que devemos fazer para realizar as obras de Deus?" (V. 28) pergunta a multidão, pronta para agir, para que o milagre do pão continue. Mas a Jesus, verdadeiro pão da vida, que satisfaz a nossa fome de sentido, de verdade, não é possível "ganhar" com o trabalho humano; só vem a nós como um dom de Deus, como obra de Deus, que deve ser pedida e acolhida.
Queridos amigos, nos dias carregados de preocupações e de problemas, mas também naqueles de descanso e relaxamento, o Senhor nos convida a não esquecer que, se é necessário preocupar-nos pelo pão material e restaurar as forças, ainda mais fundamental é fazer crescer a relação com Ele, reforçar a nossa fé naquele que é o “pão da vida”, que enche o nosso desejo de verdade e de amor.

A importância das atitudes externas em nossas orações

Palavras de Bento XVI 

Queridos irmãos e irmãs,
Hoje a Igreja celebra a memória de São Domingos de Gusmão, Sacerdote e Fundador da Ordem dos Pregadores, chamados Dominicanos. Numa catequese anterior eu já descrevi esta figura ilustre e a contribuição fundamental que ele trouxe à renovação da Igreja de seu tempo. Hoje, gostaria de destacar um aspecto essencial de sua espiritualidade: a vida de oração. São Domingos era um homem de oração. Apaixonado por Deus, não teve outra aspiração que a salvação das almas, especialmente daquelas que caíram na rede das heresias de seu tempo; imitador de Cristo, encarnou radicalmente os três conselhos evangélicos, unindo à proclamação da Palavra o testemunho de uma vida pobre; sob a inspiração do Espírito Santo, progrediu na via da perfeição cristã. Em todos os momentos, a oração era a força que o renovava e tornava sempre mais fecunda sua obra apostólica.

O Beato Jordão da Saxônia, morto em 1237, seu sucessor como líder da Ordem, escreve: “Durante o dia ninguém se mostrava mais sociável que ele... e por outro lado, à noite, ninguém era mais assíduo que ele na oração. O dia dedicava ao próximo, mas a noite era para Deus” (P.Filippi, São Domingos visto por seus contemporâneos, Bologna 1982, pág. 133). Em São Domingospodemos ver um exemplo de integração harmoniosa entre a contemplação dos mistérios divinos e a atividade apostólica. Segundo alguns testemunhos de pessoas mais próximas, “ele falava sempre com Deus ou de Deus”. Tal observação indica sua profunda comunhão com o Senhor e, ao mesmo tempo, o constante empenho de conduzir os outros a essa comunhão com Deus. Não deixou escritos sobre sua oração, mas a tradição dominicana recolheu e transmitiu sua experiência viva em uma obra intitulada: As nove maneiras de rezar de São Domingos. Este livro foi composto entre 1260 e 1288 por um frade dominicano; isso nos ajuda a entender algo da vida interior do Santo e nos ajuda também, com todas as diferenças, a aprender algo sobre como rezar.
São portanto nove as maneiras de rezar segundo São Domingos e cada uma delas, que realizava sempre diante de Jesus Crucificado, expressa uma atitude corporal e espiritual que, intimamente compenetrados, favorecem o recolhimento e o fervor. Os primeiros sete modos seguem uma linha ascendente, como passos de um caminho, rumo à comunhão com Deus, com a Trindade: São Domingos reza em pé, inclinado para exprimir humildade, deitado no chão para pedir perdão por seus pecados, de joelhos em penitencia para participar dos sofrimentos do Senhor, com os braços abertos olhando para o crucifixo para contemplar o Amor Supremo e olhando para o céu, sentindo-se atraído ao mundo de Deus. Portanto são três formas: em pé, ajoelhado, deitado no chão, mas Sempre com o olhar voltado para o Senhor Crucificado. Os dois últimos aspectos, no entanto, que gostaria de deter-me brevemente, correspondem a duas práticas de piedade geralmente vividas pelo santo. Antes de tudo, a meditação pessoal, onde a oração adquire uma dimensão ainda mais íntima, fervorosa e tranquilizante. 

No final da recitação da Liturgia das Horas e após a celebração da Missa, São Domingos prolongava a conversa com Deus, sem colocar-se um limite de tempo. Sentado calmamente, recolhia-se numa atitude de escuta, lendo um livro ou olhando para o crucifixo. Vivia tão intensamente estes momentos de relacionamento com Deus que exteriormente era possível compreender suas reações de alegria ou de prantos. Assim, assimilou em si mesmo, meditando, a realidade da fé. Testemunhas dizem que, às vezes, entrava em uma espécie de êxtase, com o rosto transfigurado, mas logo retomava suas atividades diárias, humildemente revigorado pela força que vem do Alto. Depois, a oração durante as viagens de um convento ao outro, recitava as Laudes, ao meio-dia, as Vésperas com os colegas e, atravessando os vales ou colinas, contemplava a beleza da criação. De seu coração jorrava um hino de louvor e agradecimento a Deus por tantos dons, especialmente a maior maravilha: a redenção realizada por Cristo.

Caros amigos, São Domingos lembra-nos que, na origem do testemunho de fé, que todo cristão deve dar em família, no trabalho, na vida social, e até mesmo em momentos de relaxamento, está a oração, o contato pessoal com Deus; somente este relacionamento real com Deus nos dá força para viver intensamente cada acontecimento, especialmente os momentos mais sofridos. Este santo nos lembra também a importância das atitudes externas em nossas orações. O ajoelhar-se, o permanecer em pé diante do Senhor, fixar o olhar no crucifixo, o parar e se recolher em silêncio, não são atitudes secundárias, mas nos ajudam a nos colocar interiormente, toda a pessoa, em relação com Deus. 

Quero recordar mais uma vez, para a nossa vida espiritual, a necessidade de encontrar diariamente momentos de oração com tranquilidade. 

Um génio da humanidade e um grande santo
O cardeal arcebispo de Milão celebrará a eucaristia na Basílica de São Pedro in Ciel d'Oro, de Pavia, túmulo de Santo Agostinho, no dia 28 de agosto, memória litúrgica do santo.

Agostinho está enterrado em Pavia desde o século VIII: descansa na basílica de São Pedro in Ciel d'Oro, aos pés da arca de mármore erguida no século XIV pelo prior agostiniano Bonifacio Bottigella, que mais tarde se tornou bispo de Lodi. A Arca de Santo Agostinho, assim chamada em honra do santo, traz o ano de 1362 gravado em letras góticas, festejando agora, portanto, os seus 650 anos de construção. Em 28 de agosto, memória litúrgica do santo, diante do seu túmulo, a eucaristia será celebrada às 9 horas pelo bispo de Pavia, dom Giovanni Giudici, às 11 pelo prior geral da Ordem de Santo Agostinho, pe. Robert F. Prevost, e às 18h30 pelo cardeal Angelo Scola, arcebispo de Milão.
ZENIT pediu que o cardeal Scola fizesse uma breve reflexão sobre a figura de Santo Agostinho e agradece a ele pela entrevista concedida.

Eminência, o arcebispo de Milão vai celebrar a eucaristia no túmulo de Santo Agostinho. Renova-se o vínculo singularíssimo na fé cristã entre Ambrósio e Agostinho, que, além de pastores do povo de Deus, são mestres de cultura e de espiritualidade para o Ocidente. Estamos a poucos meses do XVII centenário do Édito de Milão: o que Ambrósio e Agostinho ainda podem dizer a este respeito?
Cardeal Scola: Ambrósio e Agostinho viveram as décadas difíceis da transição entre o velho, representado pelo Império Romano esgotado e em declínio inexorável, e o novo, que se anunciava no horizonte, mas que ainda não revelava com nitidez os seus contornos. Eles estavam imersos numa sociedade em muitos aspectos semelhante à nossa, abalada por mudanças contínuas e radicais, sob a pressão dos povos estrangeiros e da depressão econômica, devida às guerras e às carestias.

Nessas condições, mesmo na profunda diversidade de história e temperamentos, Ambrósio e Agostinho foram indomáveis ​​anunciadores do Cristo para cada homem, na certeza humilde de que a proposta cristã, se aceita livremente, é um recurso valioso para a construção do bem comum.
Eles foram firmes defensores da verdade, apesar do risco e das dificuldades que isso implica, sabendo que a fé não mortifica a razão, mas a completa; e que a moral cristã aperfeiçoa a moral natural, sem contradizê-la, e promove a sua prática. Usando termos do debate contemporâneo, podemos defini-los como dois paladinos da dimensão pública da fé e de um conceito saudável de lacidade.
O Santo Padre, na carta apostólica Porta Fidei, que apresenta o Ano da Fé, cita Santo Agostinho ao dizer que "os crentes se fortalecem crendo". No Ano da Fé, qual pode ser, na sua opinião, a lição da vida humana e espiritual de Santo Agostinho?
Cardeal Scola: Numa das audiências gerais dedicadas a Santo Agostinho, Bento XVI retomou a expressão "velho mundo", e disse: "Se o mundo envelhece, Cristo é eternamente jovem. Daí o convite de Agostinho: Não se recusem a rejuvenescer com Cristo, mesmo no velho mundo. Ele diz: Não tenhas medo; a tua mocidade se renova como a da águia" (cf. Sermão 81,8; Bento XVI, audiência geral de 16 de janeiro de 2008). Agostinho é um poderoso testemunho da contemporaneidade de Cristo para cada homem e da profunda conveniência da fé para a vida.

O que significa a perenidade do pensamento e da história humana de Santo Agostinho?
Cardeal Scola: É o inquietum cor, do qual ele mesmo nos fala no incipit das Confissões. A busca incansável, que fascina os homens de todos os tempos, é especialmente valiosa para nós, que hoje estamos imersos, e muitas vezes perdidos, nas complicações deste início do terceiro milênio. Uma busca que não para na dimensão horizontal, mas que se expande para a dimensão vertical.
O próprio Agostinho descreve isto, quando, numa passagem dos solilóquios, afirma: "Eis que eu orei a Deus. O que, pois, queres saber? Todas essas coisas que pergunteiem oração. Resume-asem poucas palavras. Desejo conhecer a Deus e a alma. E nada mais? Nada mais” (Agostinho, Solilóquios I, 2,7).
Eminência, quem é Santo Agostinho para o senhor?
Cardeal Scola: Um gênio da humanidade e um grande santo, um homem plenamente realizado. Eu fico impressionado, a este respeito, com uma afirmação de Maritain que repito muito aos jovens, muitas vezes tão obcecados com o problema do sucesso e da auto-realização: "Não há personalidade realmente perfeita a não ser nos santos. Mas como? Os santos, acaso, se propunham a desenvolver a própria personalidade? Não. Eles a encontraram sem procurá-la, por procuravam a Deus somente" (J. Maritain).