Naquele tempo, 30os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado.
31Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer.
32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles.
34Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.
Apresentamos a seguir a carta do Papa Bento XVI ao Bispo de Assis-Nogera Umbra-Gualdo Tadino por ocasião do Ano Clariano.
Ao Venerado irmão Domenico Sorrentino Bispo de Assis
Foi com alegria que tomei conhecimento de que nessa Diocese, assim como entre os Franciscanos e as Clarissas do mundo inteiro, se está a recordar santa Clara com um «Ano Clariano», por ocasião do VIII centenário da sua «conversão» e consagração. Tal evento, cuja datação oscila entre 1211 e 1212, completava, por assim dizer, «o feminino» a graça que tinha alcançado poucos anos antes a comunidade de Assis com a conversão do filho de Pietro de Bernardone. E, como acontecera para Francisco, também na decisão de Clara se escondia o rebento de uma nova fraternidade, a Ordem clariana que, tornando-se uma árvore frondosa, no silêncio fecundo dos claustros continua a espalhar a boa semente do Evangelho e a servir a causa do Reino de Deus.
Esta feliz circunstância impele-me a voltar idealmente a Assis, para meditar com Vossa Excelência, venerado Irmão, com a comunidade que lhe foi confiada e, igualmente, com os filhos de são Francisco e as filhas de santa Clara, sobre o sentido deste acontecimento. Com efeito, ele fala também à nossa geração, e tem um fascínio sobretudo para os jovens, aos quais dirijo o meu pensamento carinhoso por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, celebrada este ano, segundo a tradição, nas Igrejas particulares precisamente neste dia do Domingo de Ramos.
É a própria Santa que fala, no seu Testamento, da sua escolha radical de Cristo em termos de «conversão» (cf. FF 2825). É a partir deste aspecto que me apraz começar, quase retomando o discurso feito em referência à conversão de Francisco no dia 17 de Junho de 2007, quando tive a alegria de visitar esta Diocese. A história da conversão de Clara centra-se na festa litúrgica do Domingo de Ramos. Com efeito, o seu biógrafo escreve: «Estava próximo o dia solene dos Ramos, quando a jovem foi ter com o homem de Deus para lhe perguntar sobre a sua conversão, quando e de que modo devia agir. Padre Francisco ordena que no dia da festa, elegante e ornamentada, vá aos Ramos no meio da multidão do povo, e depois na noite seguinte, saindo da cidade, transforme a alegria mundana no luto do domingo da Paixão. Portanto, quando chegou o dia de domingo, no meio das outras mulheres, a jovem, resplandecente de luz festiva, entra com as outras na igreja. Ali, com prenúncio digno, aconteceu que, enquanto os outros corriam para receber os ramos, Clara, por pudor, permaneceu imóvel e então o Bispo, descendo os degraus, chegou até ela e depôs o ramo na suas mãos» (Legenda Sanctae Clarae virginis, 7: FF 3168).
Tinha passado cerca de seis anos desde que o jovem Francisco empreendera o caminho da santidade. Nas palavras do Crucifixo de São Damião — «Vai, Francisco, repara a minha casa» — e no abraço aos leprosos, Rosto sofredor de Cristo, ele tinha encontrado a sua vocação. Disto brotara o gesto libertador do «despojamento» na presença do Bispo Guido. Entre o ídolo do dinheiro que lhe fora proposto pelo pai terreno, e o amor de Deus que prometia encher o seu coração, não teve dúvidas, e com ímpeto exclamara: «De agora em diante poderei dizer livremente:Pai nosso, que estais no Céu, e não já pai Pietro de Bernardone» (Segunda Vida, 12: FF 597). A decisão de Francisco tinha desconcertado a Cidade. Os primeiros anos da sua nova vida foram caracterizados por dificuldades, amarguras e incompreensões. Mas muitos começaram a meditar. Também a jovem Clara, então adolescente, foi sensibilizada por este testemunho. Dotada de um acentuada sentido religioso, foi conquistada pela «mudança» existencial daquele que tinha sido o «rei das festas». Achou o modo de o encontrar e deixou-se envolver pelo seu fervor por Cristo. O biógrafo faz um esboço do jovem convertido, enquanto instrui a nova discípula: «Padre Francisco exortava-a ao desprezo pelo mundo, demonstrando-lhe com uma palavra viva que a esperança deste mundo é árida e traz desilusão, e instilava nos seus ouvidos a dócil união de Cristo» (Vita Sanctae Clarae Virginis, 5: FF 3164).~
Segundo o Testamento de Santa Clara, ainda antes de receber outros companheiros, Francisco tinha profetizado o caminho da sua primeira filha espiritual e das suas irmãs de hábito. Com efeito, enquanto trabalhava pela restauração da igreja de São Damião, onde o Crucifixo lhe tinha falado, anunciara que aquele lugar teria sido habitado por mulheres que glorificariam Deus com o seu santo teor de vida (cf. FF 2826; cf. Tomás de Celano, Segunda Vida, 13: FF 599). O Crucifixo original encontra-se agora na Basílica de Santa Clara. Aqueles grandes olhos de Cristo, que tinham fascinado Francisco, tornaram-se o «espelho» de Clara. Não é por acaso que o tema do espelho lhe será tão querido e, na iv carta a Inês de Praga, escreverá: «Fixa todos os dias este espelho, ó rainha esposa de Jesus Cristo, e nele perscruta continuamente o teu rosto» (FF 2902). Nos anos em que se encontrava com Francisco para aprender dele o caminho de Deus, Clara era uma jovem atraente. O Pobrezinho de Assis mostrou-lhe uma beleza superior, que não se mede com o espelho da vaidade, mas desenvolve-se numa vida de amor autêntico, nas pegadas de Cristo Crucificado. Deus é a beleza verdadeira! O coração de Clara iluminou-se com este esplendor e isto incutiu-lhe a coragem de deixar que lhe cortassem os cabelos e de começar uma vida penitente. Para ela, como para Francisco, esta decisão foi marcada por muitas dificuldades. Se alguns familiares a compreenderam sem dificuldade, e a mãe Ortolana e duas irmãs até a seguiram na sua escolha de vida, outros reagiram violentamente. A sua fuga de casa, na noite entre o Domingo de Ramos e a Segunda-Feira Santa, teve aspectos aventurosos. Nos dias seguintes foi perseguida nos lugares onde Francisco lhe tinha preparado um refúgio e tentaram em vão, até com a força, fazê-la renunciar ao seu propósito.
Clara preparara-se para esta luta. E se Francisco era o seu guia, um apoio paterno vinha-lhe também do Bispo Guido, como vários indícios sugerem. Explica-se assim o gesto do Prelado que se aproximou dela para lhe oferecer o ramo, como que para abençoar a sua escolha corajosa. Sem o apoio do Bispo, dificilmente teria sido possível realizar o projecto idealizado por Francisco e levado a cabo por Clara, quer na consagração que ela fez de si mesma na igreja da Porciúncula na presença de Francisco e dos seus frades, quer na hospitalidade que recebeu nos dias seguintes no mosteiro de São Paulo das Abadessas e na comunidade de «Sant’Angelo in Panzo», antes da chegada definitiva a São Damião. A vicissitude de Clara, como a de Francisco, demonstra assim uma característica eclesial particular. Nela encontram-se um Pastor iluminado e dois filhos da Igreja que se confiam ao seu discernimento. Instituição e carisma interagem maravilhosamente. O amor e a obediência à Igreja, tão acentuados na espiritualidade franciscano-clariana, afundam as raízes nesta bonita experiência da comunidade cristã de Assis, que não só gerou para a fé Francisco e a sua «plantinha», mas também os acompanhou com a mão pelo caminho da santidade.
Francisco tinha visto bem a razão para sugerir a Clara a fuga de casa, no início da Semana Santa. Toda a vida cristã, e portanto também a vida de consagração especial, constituem um fruto do Mistério pascal e uma participação na morte e na ressurreição de Cristo. Na liturgia do Domingo de Ramos, dor e glória entrelaçam-se, como um tema que depois se desenvolve nos dias seguintes, através da obscuridade da Paixão, até à luz da Páscoa. Com a sua escolha, Clara revive este mistério. No dia dos Ramos recebe, por assim dizer, o seu programa. Depois, entra no drama da Paixão, cortando os seus cabelos e com eles renunciando inteiramente a si mesma para ser esposa de Cristo na humildade e na pobreza. Francisco e os seus companheiros já são a sua família. Depressa chegarão irmãs de hábito também de terras distantes, mas os primeiros rebentos, como no caso de Francisco, despontarão precisamente em Assis. Ea Santa permanecerá para sempre vinculada à sua Cidade, demonstrando-o especialmente em certas circunstâncias difíceis, quando a sua oração poupou a Assis violência e devastação. Então, disse às irmãs de hábito: «Caríssimas filhas, desta cidade recebemos todos os dias muitos bens; seria muito ímpio se não lhe prestássemos socorro, como podermos no tempo oportuno» (Legenda Sanctae Clarae Virginis23: FF 3203).