sexta-feira, 16 de novembro de 2012

ABERTURA DO CINQUENTENÁRIO DE PRESENÇA MISSIONÁRIA EM ANGOLA

50 Anos de labor missionário
“Quando eu for bispo de Silva Porto, quero-vos a trabalhar na minha diocese”
Foi assim que há 50 anos D. Manuel António Pires, bispo de Silva Porto, atual Kuito-Bié, se expressava aos superiores da então jovem Congregação das SFRJS, nascida na diocese de Bragança – Portugal. O ideal missionário estava vivo no coração e na alma dos fundadores, mais concretamente na alma de D. Abílio Vaz das Neves, que tinha vivido apaixonadamente este ideal na Índia.
No capítulo geral de 13 de agosto de 1962, é dada uma resposta favorável a D. Manuel e dele saíram as escolhidas que iriam formar o grupo da primeira fundação missionária das Servas Franciscanas Reparadoras. Foram elas as irmãs: S. Paulo, a quem o Senhor ainda conserva a vida, com 90 anos e que todos bem conhecem como a “nossa mãe”, a ir. Anunciação Xavier, aqui presente connosco e em missão em Moçambique, a Ir. Nazaré, que o Senhor já chamou a si, a ir. Fátima Ferreira aqui presente e em missão no Brasil, e a ir. Rosa Félix, aqui presente e em missão permanente em angola. A imposição do crucifixo missionário foi um momento impar jamais vivido, pois nesse mesmo dia, 4 de Outubro de 1962, estava sepultada a primeira superiora geral e fundadora da Congregação, ir. Maria do Santíssimo Sacramento. Presidiu à celebração D. Abílio e D. Manuel Pires, que passava por Portugal rumo à celebração do Concílio Ecuménico Vaticano II.
Unidas à Igreja na celebração do Ano da Fé, e no jubileu da abertura do Concílio, estamos aqui, também nós, filhas da Igreja, a celebrar o nosso jubileu, com o povo desta diocese que tão amavelmente nos acolheu. Narra a cronista daquela época, a ir. S. Paulo, que a 27 de Outubro o navio levantou as amarras e partiu mar fora… Chegaram à “querida missão” de Nova Sintra, atual Catabola, faz precisamente hoje, 50 anos, era dia 11 de Novembro de 1962. Eram aguardadas por duas irmãs de S. José de Cluny, que lhe passariam o testemunho e por dois sacerdotes espiritanos: P. Guilherme e P. Lucas.
Foi-lhes entregue a missão do internato Artur de Paiva, aqui doariam suas vidas ajudando outras vidas a crescer. O acolhimento foi para além das espectativas, com elas fica a madre Teresa para as orientar nos primeiros dias. Tudo era desconhecido, a novidade marcava cada passo das novas inquilinas. Tudo era novo: as irmãs, o clima, a paisagem, as pessoas, os costumes, a cultura, a casa e a língua que não percebiam. Em todos os espaços respirava-se a novidade. Com elas estava Aquele que é sempre novo e as fortalecia na tarefa que Ele próprio lhes confiava: Cristo. Dinamizavam a catequese, a liturgia, todos os atos de piedade, foram professoras e tudo iam fazendo, com simplicidade e humildade, mesmo sentindo a dificuldade da comunicação.
As irmãs distinguiam-se das outras pessoas apenas pela gratuidade do seu amor, da sua entrega que é sinal da solidariedade de Deus no meio do seu povo. Segundo as palavras do profeta Isaías (9,1-3) estamos aqui para nos convencermos de que o nosso mundo é o lugar onde todos caminhamos nas trevas, nas sombras e na luz…
A luz é de esperança, e nós queremos ser profetas de esperança para quantos, ontem e hoje, continuam a precisar da nossa ajuda. A esperança é como uma faísca de vida que pode transformar as trevas na beleza da luz que recai sobre todos nós, como o brilho de Deus, o fogo do Espírito. Juntos esperamos o recomeço de uma nova vida!
Queridos amigos e queridas irmãs: a lâmpada de Deus ainda não se apagou. O nosso olhar tem de ser positivo e repleto de esperança e de vida. Há vidas que continuam a esperar e a suspirar por nós. Alguém escreveu uma expressão muito bonita que diz: “ Eu te ajudarei, meu Deus, para que não te apagues em mim…” A ternura da mulher e irmã, é fonte de coragem e de fé. É assim que descrevo as cinco transmissoras do Carisma neste país e no meio deste povo: mulheres de coragem, de fortaleza e de fé. Foi o bem que invadiu o coração das que num ápice da sua entrega, disseram sim e foram e são o jasmim perfumado que é odor das que hoje continuam a oferecer as suas vidas como suave incenso a consumir-se diante do altar do Senhor.
50 anos de vida, de graça, de fé, de esperança e de uma caridade infinda! Ultrapassaram-se as dores, as sombras, os medos e passaram com imensa alegria a serem portadoras da mensagem do Evangelho. O fogo do Espírito pairava sobre cada uma e em comunhão faziam o discernimento do bem que deviam fazer sempre em qualquer situação. Obrigada, irmãs por esse sinal do amor de Deus, que nos congrega aqui, hoje, na memória feliz da Congregação que iniciou a sua peregrinação missionária convosco e que dá continuidade ao carisma, nas que hoje o abraçam com o mesmo amor e fidelidade.
50 anos de profecia e evangelização. Somos nós a mensageiras da paz e do Bem pregado por Francisco de Assis nosso pai espiritual. Desejamos ser para vós, caros cristãos desta diocese, luz nas trevas, fogo que arde e se consome em amor pela Igreja, pelo Carisma e pelo próximo.
Um provérbio africano diz: “ A fama fica, ainda que a pessoa já se tenha ido embora”… Como não fazer memória neste momento de quantas passaram por este espaço de missão? Porque não lembrar o sofrimento que trespassou tantas vezes a sua alma e o coração?
Marcam-se caminhos diferentes na vida do cristão. Nem todos estamos revestidos da mesma coragem e fé, umas no céu a viver este momento de graça, outras, que, continuam a ser sinais de esperança e fé, espalhando o perfume do amor e da alegria por onde passam e vivem.
50 anos de vida em que fazemos memória do coração, onde somos convidadas a ser profetas da verdade, da justiça, da paz e do amor. O nosso amor universal, reveste-se da força do alto, o nosso estar com e para os pobres é a razão da nossa missão. O fogo que nos empurra a brilhar como chama preciosa na sociedade em que vivemos é Jesus Cristo o Homem sempre Novo. É Ele que nos impulsiona a sermos sal e luz do mundo. Em nós arde o impulso da caridade que deve brilhar em tudo quanto somos e realizamos. Tudo se queima devagar! A nossa vida é lâmpada que brilha mergulhada no azeite do amor de Deus para connosco.
Com as fragilidades e limites da vida, avançamos e queremos como Servas Franciscanas Reparadoras, continuar a fazer brilhar o amor de Deus em vossos corações. Queremos ser portadoras de esperança e entre vós e para vós, fazer sempre o bem. Fazer o bem com o coração agradecido e fortalecido sempre pelo nosso viver fraterno, pelo testemunho de vida, pela comunhão, que faz germinar, crescer e amar.
A nossa vida é para o serviço. O nosso coração é para o amor… a nossa vida é para vós… quando servimos, quando amamos, quando choramos, quando lutamos, quando somos confrontadas com a nossa verdade íntima, descobrimos que os nossos caminhos tem de ser percorridos pela justiça, pela paz, pela alegria e pela verdade sem limites. É assim que vivemos a familiaridade de Deus e somos por Ele impulsionadas a gritar ao mundo inteiro a nossa riqueza de viver para Cristo e para os irmãos.
50 anos
Esta data, é o anúncio do hoje de Deus no hoje do mundo, questionando pela novidade do Evangelho, que não é novo mas que abre perspetivas novas de uma missão sem fim! O labor feito com audácia, o anúncio que proclama os valores de uma cultura tão nobre, torna-nos capazes de fazer resplandecer a luz no meio da noite. As irmãs espalhadas pelas dez comunidades deste país, servindo com ardor e entusiasmo na educação, na saúde, no serviço da Igreja local, faz-nos respirar o mesmo espírito que moveu o coração das cinco primeiras flores plantadas num canteiro de Angola, num jardim chamado Nova Sintra.
Toda a nossa vida vive-se em função do estímulo, do acolhimento, da solidariedade, da inspiração, da paz, da humildade e simplicidade. Queremos ser em toda a parte a voz dos sem voz, a força dos desfalecidos, a paz dos perturbados, a esperança dos desanimados e o amor dos desamados…
Deixai que partilhe convosco caros amigos, caras irmãs, uma imagem evangélica muito especial: A Unção de Betânia, onde duas irmãs e seu irmão se comprometem a honrar e a fazer festa ao seu amigo. Os papéis são partilhados, mas uma só coisa é evidente: as suas economias servem para comprar um perfume raro de alto preço. Nós irmãs, no meio de vós, povo de Angola, tão generoso e acolhedor para connosco, somos convidadas a tornar as nossas comunidades na Betânia do hoje da nossa vida, onde estamos para servir, amar, acolher, fazendo festa e renunciando ao bem-estar pessoal, sempre em favor dos irmãos, oferecendo-lhe o perfume da nossa vida, sendo cada vez mais fraternas, pacíficas e felizes na prática da caridade.
Este ano de graça é vivido sob o lema: “Enviadas a testemunhar o Evangelho da Caridade”. Vivermos este jubileu ao longo do ano 2013, é motivo de alegria e de um redobrado compromisso evangélico.
Foram duas as irmãs que este ano em diversas datas fizeram a sua profissão perpétua, a ir. Cristina Nangolo, ao serviço do carisma nesta comunidade e nesta paróquia celebra os seus 25 anos de consagração religiosa, tudo é para nós momento de profunda gratidão ao Senhor da Vida e da Vocação.
A diocese do Kuito que nos acolheu em primeiro lugar há 50 anos, seja abençoada pelo Senhor, que as famílias vivam a alegria do amor e da fidelidade, que os jovens e as crianças cresçam em sabedoria e graça, que o dom ao sacerdócio seja uma graça  para esta Igreja local, e que a vida consagrada seja sinal do amor de Deus presente no meio deste povo simples, humilde e amável.
Radicadas no Carisma que nos une, continuaremos a dar um ar novo e privilegiado à missão pondo a render os talentos que o Senhor nos confere, para o bem do ser humano. Com o que somos e temos, ajudaremos a Igreja a ser sinal do amor de Deus no lugar onde nos encontrarmos. Com coragem e determinação, queremos continuar a servir e a amar a Igreja de Angola e o povo irmão deste país maravilhoso.
Um obrigado do coração aos senhores Bispos das dioceses onde prestamos o nosso humilde serviço, pelo acolhimento, pela estima e pelo reconhecimento do Carisma que anima o nosso ser.
Às entidades políticas aqui presentes, a nossa gratidão pela presença e pela estima para com as irmãs a servir nesta província do kuito. A nossa solidariedade é muitas vezes fortalecida com o vosso desejo de fomentar o bem. Contamos sempre com a vossa colaboração. Este espaço do Lar de Kamacupa fica à espera da vossa ajuda.
Aos cristãos aqui presentes. Continuem a contar com a nossa ajuda e com a partilha da nossa fé. Vamos juntos, amar mais a Igreja e vivermos com mais intensidade o mandamento do amor que nos foi dado por Cristo como forma de vida. Obrigada pela vossa tão grande simpatia e confiança.
Num itinerário de memória vivida com gratidão, pelas irmãs que foram vida a jorrar, pelas que continuam a ser fonte a matar a sede, pelas que bebem dessa fonte e regam a vida com amor, entrega, sacrifício, felicidade e fidelidade, um louvor eterno ao Senhor e que seja Ele o motor do nosso ser e fazer, sendo luzeiros no mundo, sal da terra e instrumentos de Paz e Bem.
Felicidades, para todos e um bem-haja.