segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A música na Bíblia...

A música na Bíblia... Como linguagem da comunicação, manifestação dos sentimentos e mais alta expressão da alma, a música é tão antiga quanto a humanidade. Para alguns autores, é anterior à palavra, e só pode ser de origem divina. Não há povo, desde a antiguidade, onde não se encontrem manifestações musicais, uma vez que o próprio homem é um ser musical. Seu instrumento primeiro e natural é a voz, que produz o som, acompanhada do ritmo, no gesto de bater as mãos... De modo que o culto pela música sempre acompanhou os povos desde os tempos mais antigos, através do som e do ritmo, os dois elementos fundamentais da música, evoluindo aos poucos para a fabricação de instrumentos e para o canto, uníssono e coral. O povo de Israel sempre usou o canto e a música nas festas e celebrações religiosas. A Bíblia faz centenas de referências à música e ao canto, presentes na vida e caminhada do povo desde sua origem - o Gênesis, que cita Jubal, o primeiro a tocar o Kinnôr, espécie de harpa, até seu destino final glorioso narrado no Apocalipse, com o som de trombetas acompanhando o cântico novo dos redimidos pelo Sangue do Cordeiro... Um canto para celebrar a ação salvífica de Deus em sua história; um canto como sinal e instrumento do mistério; um canto para transmitir uma mensagem e solenizar as festas; um canto feito clamor jubiloso ou triste lamento, unido à poesia e à dança, em geral acompanhado de instrumentos diversos.

O Cântico de Moisés e Miriam (Ex 15) é um dos mais antigos e importantes, composto para celebrar a derrota dos egípcios e a intervenção de Deus na libertação do seu povo, quando da passagem do Mar Vermelho, acompanhado por danças e tímpanos. Até hoje faz parte da tradição litúrgica judaica, e os cristãos o entoamos na Vigília Pascal. O Cântico dos Cânticos, atribuído a Salomão, e que, segundo a Bíblia Pastoral, deveria ser traduzido como “O cântico por excelência” ou “o mais belo cântico”, é uma coletânea de canções de amor; celebra o amor humano e divino, revelando a ternura de Deus pela humanidade, tornado visível em Jesus Cristo. O rei Salomão dava muito destaque à música nas liturgias solenes do Templo de Jerusalém, empregando milhares de músicos, sobretudo nas grandes festas, como a transferência da Arca da Aliança para a cidade de Davi, acompanhada por grandes louvores e aclamações, danças e toque de instrumentos, conforme está descrito em 2Sm 6,5ss; 1Cr 15,16 e em outros textos. A época de maior desenvolvimento musical aconteceu nos reinados de Salomão e Davi, que apresentado a Saul como músico (1Sm 16,16) – ele próprio cantava, tocava e dançava diante da Arca (2Sm 6) -, organizou os coros levíticos para o serviço litúrgico, conforme 1Cr 23 e 25. Formou-se assim uma tradição musical, quando foram organizados e compilados os Salmos, com 150 poemas líricos que formam o coração do Antigo Testamento e são o lado orante da Bíblia. Constituem eles o Saltério, a forma mais ampla, completa e bela da canção litúrgica judaica, abrangendo desde as exclamações de alegria e louvor ao pedido de socorro e prece suplicante, em geral acompanhados de instrumentos e dança. O povo judeu cantou sua religião, louvando o Senhor, suplicando sua ajuda, confiando em sua misericórdia, aclamando seu poder, agradecendo seus benefícios. Os Salmos e Cânticos do Antigo Testamento foram compostos ao longo de milhares de anos, por isso mesmo, não sendo de nenhum tempo, dão certo para todos os tempos e espaços, cabendo em qualquer coração humano, conforme Carlos Mesters. Também Jesus, judeu plenamente, bebeu da fonte dos salmos e cânticos bíblicos, freqüentando a sinagoga e o templo, participando das festas litúrgicas. Na última ceia, cantou com os discípulos os salmos e hinos do rito pascal. Ele próprio se tornou “o cantor admirável dos salmos”, no dizer de Santo Agostinho, e nele os salmos ganharam sentido pleno. Por isso mesmo, o Livro dos Salmos deve ser o grande referencial aos que se dedicam à música e ao canto litúrgico. Concluindo este breve resumo, cito, de pleno acordo, as sábias palavras de Carmine Di Sante, em seu livro “Liturgia Judaica – Fontes, estrutura, orações e festas”, da Editora Paulus: “O judaísmo não é o negativo sobre o qual se faz sobressair o positivo de Jesus e do cristianismo, mas é a “divina melodia” cuja beleza nos dá a medida da grandeza e da originalidade de Jesus e da cristandade.” (Ir. Miria T. Kolling)  

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