segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vida de oração Litúrgica...

Instrumentistas e instrumentos musicais
Já sabemos que na liturgia a música serve de apoio, está a serviço da Palavra de Deus, da oração, do culto. Cantando, nós proclamamos o mistério pascal de Jesus Cristo e fazemos memória de sua morte e ressurreição. Assim o fizeram os primeiros cristãos, cantando seus salmos, hinos bíblicos e cânticos espirituais. Assim o fazemos nós, celebrando nossa fé, até que o Senhor venha em sua glória.
Por isso, a voz humana tem sempre a primazia sobre os instrumentos; a música vocal é mais importante que a instrumental, por ser palavra cantada, voz que reza, implora, louva, agradece, pede perdão, se alegra, aclama e dá graças...
No início do cristianismo, durante os primeiros séculos, com algumas exceções, não havia o uso de instrumentos, justamente para não distrair os fiéis ou lembrar os cultos pagãos. Neste sentido diz São Jerônimo: “Quem poderá encontrar o temor a Deus onde soam os tambores, grita a flauta, trina a lira e ressoa o címbalo?...” (Manual de Liturgia II – CELAM, Editora Paulus).
Mais tarde, os instrumentos começaram a ser admitidos, dando-se especial destaque ao órgão, instrumento litúrgico por excelência, por criar um clima de festa e alegria, solenizando os atos litúrgicos e favorecendo o canto da comunidade. Além do órgão, outros foram acrescentados, porque “podem ajudar com eficácia a conseguir a finalidade da música sagrada, desde que nada tenham de profano, de barulhento, de rumoroso, coisas essas que não se harmonizam com a função sagrada ou com a seriedade do lugar”, conforme Pio XII no documento Musicae Sacrae Disciplina ( nr. 29).
O Concílio Vaticano II, em seu nr. 120, acrescenta que além do órgão “podem ser utilizados outros instrumentos, segundo o parecer e o consentimento da autoridade territorial competente, contanto que sejam adequados ao uso sacro, ou possam a ele se adaptar, condigam com a dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis.”
O Estudo 79 da CNBB, “A música litúrgica no Brasil” , baseado nos documentos da Igreja, afirma que a música instrumental também tem seu lugar e importância na celebração da fé, “não somente enquanto acompanha, sustenta e dá realce ao canto, que é sua função principal, mas também por si mesma, ao proporcionar ricos momentos de prazerosa quietude e profunda interiorização ao longo das celebrações, proporcionando-lhes assim maior densidade espiritual. Instrumentos de todo o tipo estão sendo convocados a prestar esse serviço, contanto que se leve em conta o gênio e as tradições musicais de cada cultura, a especificidade de cada ação litúrgica e a edificação da comunidade orante.” (nr. 205).
Assim como a voz, também o instrumento por si só não pode ser classificado como sacro ou profano, pois vai depender do modo como nós o usamos, executamos e integramos na liturgia, conforme o momento ritual, levando em conta a cultura do povo e a sua tradição musical. Os instrumentos devem sempre contribuir para a beleza e dignidade da ação litúrgica, portanto serem usados com sensibilidade e discrição, dando suporte, sustentando o canto da assembléia, criando unidade, sem jamais cobrir ou abafar a voz, nem dificultar a compreensão do texto, e sem nos distrair, dispersar ou apelar apenas para os sentidos.
Entre nós é comum, além do órgão e teclado que dão a base harmônica, usar-se o violão, o acordeão, as flautas, a percussão, os metais e outros, conforme as regiões... Enfim, todos os instrumentos são bem-vindos, contanto que haja equilíbrio entre eles, o que exige atitude espiritual dos instrumentistas, que devem participar e estar profundamente envolvidos na celebração, não apenas como tocadores, mas como cristãos a serviço da música, com vivência cristã e sacramental. Tocar o instrumento é um verdadeiro ministério, e o instrumentista é um ministro de Deus a serviço da assembléia reunida em oração.
Importante é fazer o uso adequado dos instrumentos, não tocando todos o tempo todo, mas deixando espaços de descanso e alternância, dependendo do gênero musical do canto, do momento celebrativo, bem como dos vários tempos do Ano Litúrgico... Um salmo não se acompanha do mesmo modo como uma aclamação, um canto de abertura, um refrão orante... Na Quaresma e no Advento, deveríamos silenciar os instrumentos, para que voltem a ressoar com novo sabor e vibração na Páscoa e no Natal... Não só a voz, mas também os instrumentos exercem e cumprem uma função ritual, devendo ajudar a criar o clima próprio que o rito, a palavra, o canto, o momento exigem... São também gestos musicais....
Sempre é bom lembrar a importância da formação litúrgico-musical aos que exercem o ministério da música e do canto, para uma participação frutuosa de todos na ação litúrgica, que é santa e por isso exige também uma música santa, sagrada.
A pessoa humana e sua voz são o mais importante instrumento musical... Portanto, que a nossa vida seja uma contínua melodia espiritual, de canto e louvor a Deus, conforme Santo Agostinho:
“Vós sois a trombeta, o saltério, a cítara, o tímpano, o coro, as cordas e o órgão!”
Ir. Miria T. Kolling

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