segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A força da Eucaristia

A força da Eucaristia

O povo de Deus me pergunta muito como e porque nascem os meus cantos, o que é uma curiosidade interessante, sobretudo em se tratando da música para o culto, para a liturgia. Quando lhes conto das minhas experiências de vida e de Deus que se fazem música, ficam tocados e cantam de modo diferente, como que encarnando os mesmos sentimentos que me inspiraram ao rezar o meu canto, ao cantar a minha prece. Como cada experiência é irrepetível, também cada canto é como um filho único, com uma história particular. 
Uma das músicas que mais tem falado ao coração do povo, A força da Eucaristia, nasceu na década de 1990, de uma emocionante e indizível experiência de Deus acontecida na Áustria, quando lá segui os passos de nossa Fundadora, Bárbara Maix, que veio à luz em Viena no ano de 1818. Sentindo o apelo de Deus, formou ela um grupo de jovens para viver o ideal da vida religiosa, como Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Perseguida pelo império, teve que deixar a terra natal e andar por caminhos desconhecidos, até chegar ao Brasil, quando queria ir para a América do Norte... Já a caminho, participou pela última vez da Eucaristia com as 22 companheiras na capela do convento milenar agostiniano de St. Florian, a 12 Km da cidade de Linz, também às margens do Danúbio, em 1848. 
Quanto a mim, foi na manhã de um domingo ensolarado, vinda de Viena, que lhe segui os passos na pequena St. Florian, adentrando a graciosa igreja barroca, onde, por coincidência providencial de Deus, se iniciava a Celebração Eucarística. A emoção que já era grande, culminou quando se iniciaram as leituras do 19º do Tempo Comum (Ano C). A primeira – 1Rs 19,4-8 – apresentava o profeta Elias perseguido e cansado pelo deserto, pedindo a morte. Em vez disso, Deus lhe manda água e pão, pelas mãos de um anjo, que o toca e diz: “Levanta-te e come!”, prefigurando a Eucaristia, passagem depois proclamada no Evangelho de João. Impossível dizer o que aquela Palavra provocou em mim. Algo tão forte e profundo, que não cabe em palavras, e por isso mesmo se fez música. Por entre abundantes lágrimas, fiz a minha síntese vital: “As circunstâncias são outras, séculos me separam da experiência do profeta e da nossa Fundadora, mas Deus é o mesmo, e é este Pão da Vida que hoje me faz caminhar, me sustenta e impele para frente!... “ E assim, a música foi tomando forma no meu coração tocado pela graça, o que naturalmente a assembléia percebeu, uma vez que eu chorava muito... Chegaram a me perguntar se eu precisava de ajuda, sem imaginar que meu auxílio já tinha vindo do céu, pela graça daquela experiência. Porém o mais incrível ainda estava por acontecer: após a Missa, uma longa espera no ponto do ônibus que me levaria até Linz, e lá tomar o trem para Salzburg. Adormeci de cansaço, e quando escutei o barulho do ônibus chegando, acordei sobressaltada, pondo-me a correr para alcançá-lo... Foi então que me estatelei no chão, esfolando 10 pontos do corpo, a ponto de parar no Pronto Socorro.
Mais tarde, no trem, mancando e contemplando as belas montanhas do interior austríaco, enquanto viajava, eu repetia a mim mesma: “Levanta-te, Miria, e come, pois tens ainda um longo caminho a percorrer!... Te faço caminhar, vale e monte atravessar, pela Eucaristia!...” A música havia tomado conta de mim!... Portanto, uma experiência inexplicável em palavras, mas que o coração sabia vir de Deus em forma de inspiração, algo misterioso que não depende de nós, mas vem do Doador de todos os dons, como dádiva do céu, quando e como Ele quer. Por isso mesmo, quando se ouve ou canta uma música, é preciso ver e sentir por trás das notas e palavras, além do texto e melodia, o espírito que lhes deu vida, a história que os gerou como experiência religiosa. Gustav Mahler, grande compositor austríaco, tem razão ao afirmar que “O melhor da partitura está atrás das notas.” A verdadeira música é escrita com o coração e a vida.
A força da Eucaristia tem ajudado a muitos em momentos difíceis de sua vida. Está gravada no CD Graças, Senhor! (Paulinas-COMEP) e no CD Venham para a Ceia do Senhor (Paulus). De fato, quem se alimenta da Eucaristia pode tropeçar e cair, mas se levanta sempre de novo, sustentado e fortalecido pelo Pão e a Água da vida que nos fazem caminhar rumo à Eterna Fonte!
Meu coração gravou e agora pede que eu repita as significativas palavras que vi escritas no memorial do compositor austríaco Robert Stolz (1880-1975), no Parque Estadual de Viena, naquela ocasião, mais ou menos assim traduzidas por mim: “Se minhas melodias tiverem encontrado um lugar no coração das pessoas, então eu saberei que cumpri plenamente a minha missão, e não terei vivido em vão.”
O que mais posso desejar senão que também os meus cantos encontrem espaço no coração dos irmãos e lá se façam prece, súplica e louvor, ajudando-os a entrar em comunhão com Deus?... Se isto acontecer, também eu terei cumprido minha missão de ser instrumento sintonizado com o Divino Músico, canal da graça de Deus para os irmãos!

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