segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Função do Salmista


Ir.Miria T.Kolling
Por ser de suma importância o ministério litúrgico do salmista, ele merece um artigo à parte.
Tão importante quanto a do leitor, que proclama a Palavra de Deus, a função de cantar o Salmo de resposta, após a primeira leitura, é também um gesto sacramental, sinal sensível da presença de Deus.
É uma leitura-proclamação, que deve ser cantada de preferência, como um prolongamento meditativo da leitura proclamada. O salmista coloca-se a serviço de Deus, emprestando-lhe sua voz, sua comunicação, seus gestos, sua pessoa.
E coloca-se a serviço da comunidade reunida em assembléia para ouvir a Palavra. Trata-se, portanto, de um conjunto de atitudes a serem assumidas por quem canta o salmo, para que seja expressão do Deus vivo que fala à comunidade, e ao mesmo tempo, resposta orante do povo à Palavra ouvida: o modo como se dirige ao ambão, seu olhar, seus movimentos, sua dicção, o tom e a modulação da voz, enfim todo o modo de cantar e de ser, toda a postura do corpo. Movido(a) pelo Espírito, o(a) salmista proclama com os lábios e o coração a mensagem do texto bíblico, para que o povo escute e acolha o que a Igreja lhe diz naquele dia.
Da parte da assembléia, ela deve ter "os olhos fixos" em quem proclama cantando o Salmo (Lc 4, 20), sem acompanhá-lo, assim como as demais leituras, pelo folheto ou mesmo pela Bíblia. Ele deve ser proclamado do Lecionário Dominical, nossa "Bíblia Litúrgica", segundo Dom Clemente Isnard.

O livro "O canto cristão na tradição primitiva", de Xabier Basurko, publicado pela Paulus, dedica páginas e páginas ao canto do salmo e à sua importância na vida do cristão, como uma escola de oração. De fato, através dele aprendemos a suplicar e agradecer, a pedir perdão e louvar,a confiar, rezar e cantar...
Herança rica recebida do judaísmo, o salmo é um dos mais antigos cantos que foram incorporados à liturgia cristã, reinterpretado à luz do Mistério Pascal de Jesus Cristo pelas comunidades primitivas, alimentando nossa fé e nossa espiritualidade. Esquecido por séculos, felizmente foi resgatado pelo Concílio Vaticano II, como " parte integrante da liturgia da palavra", não devendo ser substituído por outro canto qualquer, porque tem valor de leitura bíblica.
Dois são os modos de executá-lo:
1) a forma responsorial, em que o salmista propõe o "refrão", cantando-o sozinho, a seguir repetido pela comunidade, e cantando as estrofes, geralmente em forma livre, numa espécie de recitativo, ouvidas e acolhidas pela assembléia, que participa no refrão;
2) a forma direta, em que o salmo é todo cantado pelo solista, sem interferência nem participação da assembléia, que só escuta.
De preferência seja usada a primeira forma, por promover uma participação ativa (canto) e passiva (escuta) da assembléia.
Em diversos encontros de liturgia e canto pastoral já foi colocada a seguinte questão: poderia o próprio instrumentista, lá do seu lugar, onde está o grupo de canto, tocar e cantar o salmo?
Não é liturgicamente o mais adequado, primeiro, porque os documentos da Igreja insistem em que "Cada um, ao desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pelas normas litúrgicas lhe compete." (Sacrosanctum Concilium). Salmodiar requer um dom especial e é um ministério próprio.
Depois, porque o Salmo Responsorial deve ser proclamado do ambão ou da estante da Palavra, como as demais leituras.
Algum instrumento que acompanhe o salmista, seja discreto e suave, servindo apenas de apoio, nunca se sobrepondo à mensagem do texto, que tem a primazia. Requer-se do salmista formação bíblico-litúrgica, espiritual e musical, bem como prática no manuseio do Lecionário e outros livros litúrgicos.
"Cantar no Espírito" supõe preparação anterior, evitando-se a improvisação.
"Devemos cantar, salmodiar e louvar ao Senhor mais com o espírito do que com a voz...
O servo de Cristo cante de tal forma que não se deleite na voz, mas nas palavras que canta."

(São Jerônimo) 

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