Os cristãos "discípulos da ideologia":
Uma doença grave. A cura é a oração
ROMA, 17 de Outubro
No ‘caderno
médico’ onde o Papa Francisco, através das homilias matutinas em Santa Marta,
identifica a cada dia as ‘doenças’ que poderiam contagiar cada cristão,
acrescenta hoje um novo vocábulo: ideologia. Se um cristão “se torna discípulo
da ideologia, perdeu a fé” afirmou o Santo Padre na Missa de hoje. A ‘cura’ é a
oração, acrescentou, e quando um cristão a abandona corre o risco de cair no
moralismo e em uma atitude de isolamento.
Como sempre,
uma frase do Evangelho é o ponto de partida para a homilia do Papa: "Ai de
vós, legistas, porque tomastes a chave da ciência!”. A advertência de Cristo no
Evangelho de Lucas (11, 47-54) vale muito bem, de acordo com o Papa, para o
contexto atual: “Quando caminhamos pela rua e nos encontramos com uma igreja
fechada, sentimos algo estranho”, porque “uma igreja fechada não se entende”,
disse.
Às vezes, disse
ele, "nos dão explicações” que nada mais são do que "desculpas"
e "justificativas" que escondem a verdade, ou seja, de “que a igreja
está fechada e as pessoas que passam na frente não podem entrar". Ou pior,
que "o Senhor que está dentro não pode sair". "A imagem de
encerramento" que Jesus retrata é, portanto, "a imagem daqueles
cristãos que têm em mãos a chave, mas a levam embora, não abrem a porta” e que,
não deixando entrar, “nem sequer eles entram”.
"Como é
possível que um cristão caia nessa atitude de chave no bolso e porta
fechada?", perguntou-se o Santo Padre. É a “falta de testemunho cristão”
que faz isso. Um fato – observou – que se torna ainda mais grave “quando aquele
cristão é um sacerdote, um bispo ou um Papa”.
"A fé -
disse o Papa Francisco - passa, por assim dizer, por um alambique e se
transforma em ideologia. E a ideologia não convoca. Nas ideologias Jesus não
está: a sua ternura, amor, mansidão. As ideologias são rígidas, sempre”. Por
isso o Pontífice disse que “quando um cristão se torna discípulo da ideologia,
perdeu a fé”, porque dessa forma “não é mais discípulo de Jesus, é discípulo
desta atitude de pensamento”.
É claro, então,
a admoestação de Cristo: ‘Vós tomastes a chave da ciência’. “O conhecimento de
Jesus – explicou o Papa – é transformado em um conhecimento ideológico e também
moralista, porque eles fechavam a porta com um monte de prescrições”. Mas
Jesus, no Evangelho de Mateus, faz outra repreensão, disse o Santo Padre:
"Vós carregais sobre os ombros das pessoas muitas coisas; só uma é
necessária”. Quem tem a porta fechada e a chave no bolso é vítima portanto de
um “processo espiritual, mental”, no qual a fé se torna aquele tipo de
ideologia que “espanta”, “afasta as pessoas" e as "distanciam"
da Igreja.
Não é uma
questão superficial “essa dos cristãos ideologizados”, mas uma “doença grave”,
destacou o Papa. Uma doença que tem suas raízes já nos séculos passados. Já o
apóstolo João, de fato, na sua primeira Carta falava daqueles cristãos “que
perdem a fé e preferem as ideologias”, tornando-se “rígidos, moralistas,
eticistas, mas sem bondade”.
A questão,
portanto, chega a esse ponto: “Mas, como é que um cristão pode chegar a isso? O
que acontece no coração daquele cristão, daquele sacerdote, daquele bispo,
daquele Papa, que o torna assim?". "Só uma coisa - disse o Papa –
aquele cristão não reza e se não há oração, você sempre fecha a porta”. Não
somente: “Quando um cristão não reza” o seu testemunho é “soberba”, porque
“quem não reza é um soberbo, é um orgulhoso, é um seguro de si mesmo. Não é
humilde. Busca a própria promoção”, destacou Francisco. Pelo contrário, “quando
um cristão reza, não se distancia da fé, fala com Jesus”.
Porém, cuidado:
"Uma coisa é orar e outra é recitar orações”, disse Bergoglio. “Estes
doutores da lei recitavam muitas orações”, por orgulho, “para aparecer”. Eles
“não oram, abandonam a fé e a transformam em ideologia moralista, casuística,
sem Jesus”, afirmou o Papa. Tanto que, quando “um profeta ou um bom cristão os
reprova, fazem o mesmo que fizeram com Jesus: quando saiu de lá, os escribas e
fariseus começaram a tratá-lo de modo hostil (estes ideologizados são hostis) e
a fazê-lo falar sobre muitos temas, armando-lhe armadilhas (são insidiosos)
para surpreendê-lo com alguma palavra saída da sua própria boca".
"Coitadinhos",
exclamou o Santo Padre, "não são transparentes", "são pessoas
sujas pela soberba”. Nós cristãos queremos cair nessa armadilha? Não? Então,
exortou o Papa: “Peçamos ao Senhor a graça de não deixarmos a oração, para não
perdermos a fé, permanecermos humildes. E assim não nos tornaremos fechados,
que bloqueiam o caminho ao Senhor”.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.