O dinheiro
serve, a avidez mata
O dinheiro serve para
realizar muitas obras boas, para fazer progredir a humanidade, mas quando se
torna a única razão de vida, destrói o homem e os seus vínculos com o mundo
externo. Eis o ensinamento que o Papa Francisco tirou do trecho litúrgico do
evangelho de Lucas (12, 13-21) durante a missa celebrada esta manhã,
segunda-feira 21 de Outubro, em Santa Marta.
No início da homilia o
Santo Padre recordou a figura do homem que pede a Jesus que intime ao seu irmão
para dividir com ele a herança. Com efeito, para o Pontífice o Senhor
fala-nos através desta personagem «da nossa relação com as riquezas e com
o dinheiro». Um tema que não é só de há dois mil anos mas que se apresenta
ainda hoje, todos os dias. «Quantas famílias destruídas – comentou – vimos por
problemas de dinheiro: irmão contra irmão; pai contra filhos!». Porque a
primeira consequência do apego ao dinheiro é a destruição do indivíduo e de
quem lhe está próximo. «Quando uma pessoa é apegada ao dinheiro – explicou o
bispo de Roma – destrói-se a si mesma, destrói a família».
Certamente, o dinheiro
não deve ser exorcizado de modo absoluto. «O dinheiro – esclareceu o Papa
Francisco – serve para realizar tantas coisas boas, tantas obras, para
desenvolver a humanidade. O que deve ser condenado, ao contrário, é o seu uso
exagerado. A este propósito o Pontífice repetiu as mesmas palavras pronunciadas
por Jesus na parábola do «homem rico» contida no Evangelho: «Quem acumula
tesouros para si, não se enriquece aos olhos de Deus». Por isso, a admoestação:
«Prestai atenção e mantende-vos distantes de qualquer avidez», porque a avidez
faz adoecer o homem, levando-o a um círculo vicioso no qual cada pensamento
está «em função do dinheiro».
A característica mais
perigosa da avidez é precisamente a de ser «um instrumento da idolatria; porque
vai em sentido oposto» ao caminho traçado por Deus para os homens. Há
portanto um «caminho de Deus», o da «humanidade, do abaixar-se para
servir», e um percurso que vai na direcção oposta, onde conduzem a avidez e a
idolatria: «Tu que és um pobre homem, fazes-te Deus pela vaidade».
Por este motivo,
acrescentou o Pontífice, «Jesus diz coisas tão duras e tão fortes, contra o
apego ao dinheiro»: por exemplo, quando recorda «que não se podem servir dois
senhores: ou Deus ou o dinheiro»; ou quando exorta «a não nos preocuparmos,
porque o Senhor sabe do que precisamos»; ou ainda quando «nos leva ao abandono
confiante no Pai, que faz florescer os lírios do campo e dá de comer aos
pássaros do céu».
Um comportamento em
aberto contraste com esta confiança na misericórdia divina é precisamente o do
protagonista da parábola evangélica, o qual não conseguia pensar em mais nada a
não ser na abundância do grão colhido nos campos e dos bens acumulados. Um
comportamento que, segundo o Papa, acalenta a ambição de alcançar uma espécie
de divindade, «quase uma divindade idólatra», como testemunham os
pensamentos do homem: «Alma minha, tens à disposição muitos bens, por muitos
anos; repousa, come, bebe, diverte-te».
Mas é precisamente
então que Deus o reconduz à sua realidade de criatura, advertindo-o com a
frase: «Insensato, esta mesma noite ser-te-á pedida a tua vida». Porque,
concluiu o bispo de Roma, «este caminho contrário ao caminho de Deus é uma
insensatez, conduz longe da vida. Destrói qualquer fraternidade humana».
Enquanto o Senhor nos mostra o caminho verdadeiro. Que «não é o caminho da
pobreza para a pobreza»; ao contrário «é o caminho da pobreza como
«instrumento, para que Deus seja Deus, para que Ele seja o único Senhor, não o
ídolo de ouro». Com efeito, «todos os bens que possuímos, o Senhor no-los
concede para que sejam em benefício do mundo, da humanidade, para ajudar os
outros».
Eis então os votos de
que «permaneça hoje no nosso coração a palavra do Senhor», com o seu convite a
afastar-se da avidez, para que «mesmo se uma pessoa vive na abundância, a sua
vida não dependa do que ele possui».
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