segunda-feira, 30 de julho de 2012


Há vagas

Reflexões espirituais de Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém do Pará



O Povo de Deus, conduzido por Moisés através do deserto, rumo à Terra Prometida, passou por muitas e diversificadas crises. O próprio Moisés passou suas dificuldades, pois devia conduzir uma multidão de gente de cabeça dura. Como muitos líderes de todas as épocas da história, a conselho de seu sogro (Cf. Ex 18,1-27), aprendeu a compartilhar seu trabalho com homens escolhidos, sem acumular nas próprias mãos o poder e as múltiplas tarefas que comportava o cuidado da viagem pelo deserto. Aarão, Josué e tantos outros encontraram seu lugar para viver ao lado de Moisés o chamado que lhes era próprio.
O correr da história sagrada apresenta juízes, profetas e reis, todos chamados a exercer um serviço inestimável, chamados e inspirados por Deus. E que dizer de mulheres fortes, como Sara, Rute, Judite, Débora e muitas outras? Muitas foram as pessoas conduzidas pelo Espírito do Senhor, cuja lembrança a Escritura registra, para que as sucessivas gerações estivessem abertas ao apelo de Deus. E não foram poucas as circunstâncias e os desafios experimentados por todas estas pessoas, preciosas aos olhos de Deus.
Os Evangelhos se abrem com a graça do chamado: Maria e José, Zacarias e Isabel, Simeão e a Profetiza Ana, os discípulos de Jesus e dentre eles os doze apóstolos. E do meio do povo que seguia Jesus, conversões, curas, seguimento estrito do Senhor se multiplicam, oferecendo a moldura para toda aventura que se chame humana. Mais adiante, no Tempo do Espírito relatado pelos Atos dos Apóstolos, entram na lista Ler e rezar a Escritura Sagrada é envolver-se com o mistério do chamado, a graça da vocação. Homens firmes e provados, como os primeiros Diáconos, convertidos como o Eunuco da estrada de Gaza, ou o Centurião Cornélio ou, mais do que todos, São Paulo, o Apóstolo das Gentes. Em todos resplandece as armadilhas de amor tramadas por Deus para a graça do chamado.

Na Igreja de Jesus Cristo, em todas as épocas e situações, a realidade do chamado se faz presente. Vocação foi o chamado de eremitas e monges, cuja solidão foi habitada pela presença do Senhor e pelas muitas pessoas que desde o princípio foram atrás deles, porque procuravam Deus. Sua vida suscitou seguidores e até hoje existem e sempre existirão pessoas chamadas ao silêncio e ao claustro. Vocação são os grandes Carismas, a pobreza com São Francisco, a Contemplação com São João da Cruz e Santa Teresa D’Ávila, a pregação com São Domingos. Vocação foi o apelo de Deus para o surgimento das Ordens e Congregações Religiosas, criadas para responder aos desafios sociais, à educação das crianças, adolescentes e jovens, ao cuidado da saúde, como as famílias de pessoas consagradas que Deus inspirou no século dezenove e no início do século vinte ou muitas Congregações missionárias. Vocação são as novas formas de dedicação a Deus, chamadas “Comunidades Novas”.
Desde o princípio, o Senhor chamou homens para o Episcopado, o Presbiterado e o Diaconado, o ministério ordenado, para o serviço da Palavra, do Altar e do Pastoreio. Trata-se de um chamado específico dentro da Igreja, são as vocações que brotam em nossas Comunidades Paroquiais.
E se alguém não se sentir tocado por tais “vagas” de trabalho, certamente é porque seu lugar, de uma imensa e qualificada maioria, é a do leigo ou leiga, presente na Igreja, comprometido com os valores do Evangelho, vocação magnífica para ser sal, luz e fermento no mundo, oferecendo-se como hóstia agradável a Deus.

Mais ainda! Que lugar carregado de dignidade é aquele ocupado pelas pessoas chamadas ao Matrimônio, homens e mulheres encarregados de realizar nos lares cristãos a imagem do relacionamento existente na família mais perfeita, Pai e Filho e Espírito Santo.
Existe um mistério que toca de perto todos os homens e mulheres batizados, sem exceção, o olhar pessoal de Deus, nosso Criador e Guia, que quer dizer de novo, neste mês dedicado às vocações (Cf. Mt 20,1-16): “Por que estais aí o dia inteiro desocupados? Ide vós também para a minha vinha”. Deus acompanha os fiéis e os cumula com sua inesgotável bondade, restaurando o que por Ele mesmo foi criado e conservando o que foi restaurado. Há muito a fazer, quando as pessoas, mesmo quando não se expressam assim, gritam insistentemente (Jo 6,28): “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” Quem acolhe sua graça não pode ficar indiferente! O mundo em que vivemos clama pela nossa resposta ao chamado de Deus e pelo nosso testemunho qualificado, grita pela nossa vocação!

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