Paulo VI, uma luz que brilha sobre o cume
do monte
Retrato do Papa Paulo VI, em vista da beatificação de 19 de outubro
Em 06 de agosto de 1978, domingo em que celebrávamos a festa da
Transfiguração do Senhor, o Papa Paulo VI, às 21:40, na residência estiva de
Castel Gandolfo, retornava à casa do Pai.
Assim, um místico do Islã fala sobre a
morte de Paulo VI: "O Mensageiro de Deus subia todos os dias o monte santo,
mas ontem, festa do monte santo, Deus lhe disse: não desça mais até os homens,
mas permaneça aqui, na luz, comigo".
Poucos dias após sua eleição como Sumo
Pontífice, que teve lugar dia 21 de junho de 1963, em um retiro espiritual, o
Papa Paulo VI escreve: "A luz do castiçal queima e se consome sozinha. Mas
tem uma função, a de iluminar os outros, a todos, se possível". Ele, o
Papa “perito em humanidade" foi realmente luz que brilha no cume da
montanha e ainda continua a ser, graças ao seu grande e sempre atual
ensinamento.
Seu profundo amor por Cristo foi uma
constante que animou sua rica espiritualidade e sua dolorosa e exigente ação
pastoral. Ensinava que se deve conhecer Jesus para viver e sempre ser aluno em
sua escola. Fez seu, o lema de Santo Ambrósio: "Cristo é tudo para
nós". Sua alegria, sua paz profunda provinha da cruz e da ressurreição de
Cristo.
Os problemas que o perseguiam e que se
abatiam sobre os seus ombros, os problemas da Igreja e do mundo, o sofrimento
do indivíduo e da humanidade eram enfrentados por ele com um forte senso de
responsabilidade e dever, sempre com conhecimento e lucidez corajosos, com uma
fé como rocha, inabalável, e à luz da esperança cristã.
Ele era um homem altamente contemplativo:
a oração era como o húmus que tornava o solo fértil, onde crescia sua vida.
Amou muito a Mãe de Deus. Em 21 de novembro de 1964, no contexto do Concílio
Vaticano II, proclamou Maria "Mãe da Igreja", provocando o
consentimento dos Padres conciliares, que se levantaram espontaneamente para
aplaudir.
Há um título pelo qual é possível
expressar o papel de Paulo VI na história da Igreja?
O Patriarca de Constantinopla, Atenágoras,
em 05 de janeiro de 1964, quando se encontrou com o Papa na Terra Santa, não
hesitou em chamá-lo de "Paulo II" pela forte afinidade entre o
apóstolo dos gentios e Paulo VI. Em seguida, redescobrindo o grande valor de
Paulo VI, pode-se chamá-lo de "primeiro Papa moderno". E mais:
"O Papa do diálogo”
"O Papa do Concílio Vaticano II"
"O Papa do ecumenismo"
"O Papa Peregrino"
"O Papa da civilização do amor"
"O Papa defensor da vida"
"O Papa dos tempos futuros"
"O Papa perito em humanidade"
"O Papa da Paz"
"O Papa da alegria"
"O Papa professor e testemunha"
"O Papa enamorado de Cristo e da
Igreja"
Uma pessoa muito próxima à vida de Paulo
VI sintetiza: "Posso confirmar sua característica de ser sempre servo.
Servo de Cristo e do homem; servo no Concílio Ecumênico Vaticano II e no
compromisso de sua execução; constante servo, ousado e prudente na atualização
da Igreja; servo nas viagens apostólicas, no compromisso com a paz, na tensão
ecumênica; servo na defesa da fé pela solene profissão de fé conhecida como o
"Credo de Paulo VI"; servo em suas encíclicas, em seus discursos, em
todo o seu magistério; humilde servo, sempre disponível e generoso em suas
obras de caridade".
Os quinze anos de seu pontificado
(1963-1978), no entanto, foram repletos de sofrimentos, críticas e até mesmo
calúnias. Um pontificado que foi, muitas vezes, a agonia no Getsêmani e que
conduziu o homem, o cristão Giovanni Battista Montini a viver o mistério da
cruz, configurando-se cada vez mais a Cristo Crucificado. Basta pensar no
atentado que ele sofreu em 27 de novembro de 1970 em Manilae e no uso do
cilício como uma prática penitencial. Não foi por acaso que Paulo VI instituiu
o rito da Via-Sacra no Coliseu na Sexta-feira da Paixão e a cruz nas mãos do
Papa durante a liturgia. Gestos emblemáticos do seu esforço para conduzir a
Igreja aos pés da Cruz, onde nasceu a Igreja.
Não devemos esquecer que Paulo VI, no
curso de sua rica experiência de Sacerdote-Bispo-Papa, aceitou com entusiasmo e
consciência crítica o confronto com a cultura dos homens de seu tempo. É um
"grande" no sentido evangélico, que conseguiu encarnar em si o amor,
a paixão, o sacrifício de Jesus, para o bem da Igreja.
Na Exortação Apostólica Evangelii
Nuntiandi Paulo VI evidenciou uma verdade muito importante: "o homem
contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres,
ou então, se escuta os mestres é porque eles são testemunhas”. Esta afirmação
é, talvez, o melhor comentário que implicitamente Paulo VI fez de sua vida:
maestro, mas acima de tudo testemunha. Uma testemunha credível porque não
hesitou em dar testemunho de Cristo até o derramamento de sangue.
Então, a imagem inicial da lâmpada que
arde e consome a si mesma seja a mais significativa; a luz que sempre iluminou
a personalidade de Paulo VI. Ele escreve em seu Testamento: “Fixo o
olhar no mistério da morte e do que a ela segue à luz de Cristo, o único que a
esclarece; olho, portanto, para a morte com confiança, humilde e serenamente.
Percebo a verdade que esse mistério projetou sempre sobre a vida presente e
bendigo ao Vencedor da morte por haver dissipado em mim as trevas e descoberto
a luz. Por isso, ante a morte e a separação total e definitiva da vida
presente, sinto o dever de celebrar o dom, a fortuna, a beleza, o destino desta
mesma fugaz existência: Senhor, te dou graças porque me chamaste à vida e
mais ainda porque me regeneraste e destinaste à plenitude da vida”.
E no Pensamento da morte: "E à
Igreja, à qual tudo devo e que foi minha, que direi? As bênçãos de Deus estejam
acima de ti; tem consciência da tua natureza e da tua missão; tem o sentido das
necessidades verdadeiras e profundas da humanidade; e caminha pobre, isto é,
livre, forte e amorosa rumo a Cristo".
A luz da lâmpada que se extinguiu em 06 de
agosto de 1978, Festa da Transfiguração do Senhor, agora está viva para sempre
e resplandece em Jesus Ressuscitado; e tornou-se para todos luminoso reflexo da
glória e da alegria que Deus oferece aos seus Santos.
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