Junho de 1963: A dor e o júbilo na colina do
Vaticano
Quando se celebra o cinquentenário da morte de João XXIII e o mesmo número
de anos da eleição de Paulo VI, duas palavras atravessam a memória dos
cristãos: dor e júbilo. Dois conceitos que marcaram o mundo católico, e não só,
no mês de junho de 1963.
Quando se celebra o cinquentenário
da morte de João XXIII e o mesmo número de anos da eleição de Paulo VI, duas
palavras atravessam a memória dos cristãos: dor e júbilo. Dois conceitos que
marcaram o mundo católico, e não só, no mês de junho de 1963.
Com a morte do Papa que convocou o
II Concílio do Vaticano, a tristeza invadiu todos os continentes. O homem que
escreveu a encíclica «Pacem in Terris» foi “o amigo do homem actual” e deixou
uma “carta aberta ao universo” (Urbano Duarte, Elogio fúnebre pronunciado na Sé
Nova de Coimbra, durante as exéquias solenes da diocese, na tarde de 11 de
Junho de 1963) (In: Revista Estudos – órgão do CADC, Junho de 1963, nº 418).
A «Pacem in Terris» é um diálogo com
todos os homens, convidando-os a colaborar no sentido de que se estabeleça a
paz entre eles e as nações. “É o código dos direitos do homem, agora sem
suspeita subversiva, porque selado pelo anel do pescador”, referiu Urbano
Duarte. Antes da referida encíclica de João XXIII, os textos pontifícios
situavam-se “dentro da igreja” e a sua “influência nos acontecimentos externos
verificava-se por acção indirecta”. A «Pacem in Terris» abre confiadamente a
porta da Igreja, para que a voz do Papa seja “escutada” não apenas pelos
cristãos, mas por todos os homens. A todos, o Papa que faleceu a 03 de junho de
1963 se dirige com simplicidade, “sem argúcias habilidosas, sem avisos nem
anátemas de severo mentor.” (In: Revista Estudos – órgão do CADC, Junho de
1963, nº 418).
A dor do desaparecimento de João
XXIII ficou gravada nos corações dos cristãos, mas a alegria jubilosa apareceu
com a eleição do homem que continuou a barca conciliar. Nascido na zona de
Bréscia (Itália) a 23 de Setembro de 1897, o cardeal Montini foi eleito Papa
após um dia de conclave (21 de junho de 1963) e tomou o nome de Paulo VI. Na
oração congratulatória proferida na Sé Nova de Coimbra por ocasião do solene Te
Deum, no dia da coroação de Paulo VI (30 de junho de 1963), Eugénio Martins
proferiu as seguintes palavras em relação ao trabalho de Montini na arquidiocese
de Milão: “O seu sonho era que na sua diocese, coração das indústrias
italianas, o ruído das máquinas fosse um hino e que o fumo das chaminés se
transformasse em incenso” (In: Revista Estudos – órgão do CADC, Junho de 1963,
nº 418, pág 342). No seu discurso, o orador continuou: “Milão, um dos centros
comunistas da Itália, está convertida num braseiro cristão”.
Na mesma revista, o poeta Vítor
Matos e Sá publica “oito poemas no limiar da eleição do Santo Padre Paulo VI”.
Num desses poemas, o autor escreve: “agora que sois o arquitecto dos exemplos /
na sábia arrumação das traves / visíveis do destino; / E porque em vosso rosto
venham ler / o reacendido texto inesgotável, / e a vossa bondade possa unir /
as páginas rasgadas / e as fontes divididas”. Palavras sobre o homem que
continuou a rasgar os horizontes conciliares iniciados pelo seu antecessor.
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