Evangelho segundo S. João 17,1-11a.
Naquele tempo, Jesus,
levantando os olhos ao céu, exclamou: «Pai, chegou a hora! Manifesta a glória
do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória, segundo o poder que lhe deste sobre toda a Humanidade, a fim de que dê a vida
eterna a todos os que lhe entregaste.
Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem Tu enviaste. Eu manifestei a tua glória na Terra, levando a cabo a obra que me deste a
realizar.
E agora Tu, ó Pai, manifesta a minha glória junto de ti, aquela glória que Eu
tinha junto de ti, antes de o mundo existir.
Dei-te a conhecer aos homens que, do meio do mundo, me deste. Eles eram teus e
Tu mos entregaste e têm guardado a tua palavra.
Agora ficaram a saber que tudo quanto me deste vem de ti, pois as palavras que me transmitiste Eu lhas tenho transmitido. Eles
receberam-nas e reconheceram verdadeiramente que Eu vim de ti, e creram que Tu
me enviaste. É por eles que Eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me confiaste,
porque são teus.
Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu; e neles se manifesta a minha
glória.
Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para ti. Pai
santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti, para serem um só, como Nós
somos!
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja. Sermões sobre o Evangelho de João, nos. 104-105
«Pai, glorifica o Teu Filho, a fim de que o Filho Te
glorifique»
Há pessoas que pensam que o Filho foi glorificado pelo
Pai na medida em que Ele não O poupou, mas O entregou por todos nós (Rom.
8,32). Mas, se Ele foi glorificado na Sua Paixão, quanto mais o não foi na Sua
ressurreição! Na Paixão, a Sua humildade aparece mais do que o Seu esplendor. A fim de que «o mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo» (1
Tm 2,5), fosse glorificado na Sua ressurreição, foi humilhado na Sua Paixão. Nenhum cristão duvida: é evidente que o Filho foi glorificado sob a forma
de servo, que o Pai ressuscitou e fez sentar à Sua direita (Fil 2,7; Ac 2,34).
Mas o Senhor não diz apenas: «Pai, glorifica o Teu Filho»; acrescenta: «para
que o Teu Filho Te glorifique». Pergunta-se, e com razão, como é que o Filho
glorificou o Pai. Na verdade, a glória do Pai, em si mesma, não pode
aumentar nem diminuir. No entanto, era menor entre os homens quando Deus só era
conhecido «na Judeia» e «os Seus servos não louvavam o nome do Senhor desde o
nascer ao pôr do sol» (Sl 75,2; 112,1-3). Isto foi consequência do Evangelho de
Cristo, que deu a conhecer às nações o Pai através do Filho: e foi assim que o
Filho glorificou o Pai.
Se o Filho tivesse apenas morrido e não tivesse ressuscitado, não teria sido
glorificado pelo Pai nem o Pai por Ele. Agora, glorificado pelo Pai na Sua
ressurreição, glorifica o Pai pela pregação da Sua ressurreição. Isto vê-se na
própria ordem das palavras: «Pai, glorifica o Teu Filho, para que o Teu Filho
Te glorifique», como se dissesse: «Ressuscita-Me, para que, por Mim, sejas
conhecido em todo o universo». Nesta vida, Deus é glorificado quando a
pregação O dá a conhecer aos homens; e é pregado pela fé dos que crêem n'Ele.
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