quarta-feira, 10 de agosto de 2011

NA FRESCURA DE UMA VISITA FRATERNA...

MOZAMBIQUE...
Mesmo com alguns momentos de dificuldade, o Senhor assiste-nos em nossas fraquezas e fortalece a nossa debilidade. Foi assim, que avancei para a viajem Porto, Maputo. Porque as forças eram menores, pedi ajuda e acompanhou-me até Lisboa a Ir. Maria do Céu, para puxar a bagagem de mão. Chegadas a Lisboa, encontramos a Marina que havia viajado de S. Paulo para depois seguir comigo para Maputo para aí ficar e fazer o noviciado. Uma viagem muito longa, mas muito serena. A noite não deu para fechar os olhos, pois não havia posição para o pescoço e as pernas ficavam adormecidas...
No silêncio da noite, rezei ao Senhor das alturas e  do universo. Em Seu coração coloquei alegrias, dores e canseiras da vida, apresentei a vida e o crescimento da Congregação, repassando cada uma das irmãs. Na escuridão de uma noite longa, experimentei o Mestre como alívio, conforto e segurança. A Sua Luz intensa, brilhou no meio da noite e chegamos a Maputo pelas 5.30h locais. Nesta altura ainda se faz sentir a noite e nem deu para ver o sol nascer.
Como tudo está diferente! Muito progresso à vista de todos. Como foi grande a diferença desde a primeira visita até hoje! Como ia ser,se nem podia empurrar o carrinho para ir buscar as malas e a Marina tinha que guardar as dela! Aparecem sempre aqueles que precisam de uma nota e não tive outro remédio. A minha bagagem chegou direita e bem depressa, mas a da Marina ficou metade em Lisboa, que chatice.... Chegou a Ir. Anunciação e as duas foram reclamar as malas.... Saímos e à espera do carro, sentiu-se um vento bem frio que trespassava os ossos. Nem parecia que estava em África, mas estava  em casa com a graça de Deus. A saudação foi efusiva.... batuque e cantos de alegria. Depois de   feita a visita ao Patrão da casa numa capela bem arejada e harmoniosamente arranjada.
Graças a Deus estávamos em casa. Faltava tomar o pequeno almoço e depois ir fazer um descanso, pois uma noite sem dormir custa e para mais com o corpo encolhido....
O frio faz-se sentir, é preciso meias, casaco e à noite um pijama quente e umas meias a aquecer os pés. Faltam ainda as posições da coluna, mas já dá para descansar e dormindo a noite sem sobressaltos. Um mosquito quis saudar-me e toda a noite se alimentou, mas de manhã levou uma palmada e terminou por ali a sua vida.
No Domingo logo de manhã fomos à Missa à Paróquia. Era dia de nomeações das pastorais e a surpresa foi grande, pois a Ir. Anunciação ficou responsável da catequese, no conselho permanente e conselho pastoral. Uma coleção de serviços que vão preencher mais o seu tempo, já tão ocupado. O Domingo foi para descansar e ver o que havia nas malas. Fez-se a agenda de trabalho e como ainda sinto as costas fragilizadas e o pescoço esquisito, preferi ficar a fazer a visita no Noviciado que graças a Deus é numeroso. São quatro noviças, quatro postulantes, três pré postulantes e ainda faltam as jovens quenianas que deveriam ter vindo comigo mas não foi possível, por causa de documentos.A noite chega bem cedo, e o recreio deste dia foi bem animado. Estavam preparadas para fazerem uma festa à nossa chegada, o que aconteceu com muita euforia e alegria. Não havia rebuçados para distribuir, pois haviam ficado na mala em Lisboa e esta só chegava na quinta feira. Dando graças ao Senhor por tudo seguiu-se o merecido descanso.
A segunda feira amanheceu fresquinha. O orvalho da manhã sente-se com intensidade, o verde da relva brilha e as pétalas das rosas ficam de uma beleza rara. Pela primeira vez vi o florir das mangueiras que se preparam para dar fruto a seu tempo. Havia no jardim do claustro uma laranjeira com três das suas primícias que estavam à minha espera, mesmo já sem o sumo saboroso, deu para perceber que são de boa marca.
Nesta manhã a ir. Anunciação saiu muito cedo com a ir. Alda para tratar do visto para Portugal. No dia seguinte tocou-me a mim ir confirmar in loco, que estava em Moçambique e  fazer nova carta de chamada para a ir. Alda poder obter o visto de entrada em Portugal. Sair para o movimento da cidade leva uma manhã inteira. Nas repartições publicas é preciso esperar tempos infinitos. Todos os dias tem-se feito uma corrida para o serviço de emigração por causa da Benedeta e Doroty, que ficaram em Portugal e ainda não temos despacho de documentos. Depois do almoço, seguiu-se o necessário e habitual descanso e na hora marcada para a reflexão comum de início da Visita Canónica aconteceu, na sala do Noviciado, com a comunidade toda reunida, num total de catorze pessoas, pois as aspirantes ainda não participaram neste ato fraterno.
Em casa a Eucaristia apenas se celebra três vezes por semana, o que é uma graça muito grande. Nos outros dias faz-se a celebração da Palavra. Nos momentos de oração comum parece que tudo sai sempre com perfeição. A beleza e a expressão do ritmo musical dão um sabor diferente à oração, daí que se saboreia com  um gosto especial.
De manhã dava-me sempre uma curiosidade imensa de ver o sol nascer com todo o seu esplendor, era um espreguiçar-se lentamente para depois mostrar todo o seu esplendor saindo por entre as árvores ou escondido nalguma nuvem que teimava em não o deixar brilhar. Dava para fazer uma meditação silenciosa, sem palavras, pois ao contemplar a maravilha da Criação, nada mais nos resta a não ser o louvor e a ação de graças pela vida, pela natureza e por toda a criação.
Durante a semana exerci o serviço da escuta, dediquei mais tempo à leitura e à reflexão. A liturgia diária era também motivo de oração e de contemplação interior. Aos poucos os incômodos causados pelas dores nas costas e no braço esquerdo foram ficando mais suaves. O Senhor é realmente força para o suporte de algo que parece impossível aceitar e suportar.
Visitou-nos o Engenheiro Bainha, para acertar algumas coisas referentes à obra Social que ainda não arrancou, mas está para breve se Deus quiser. As coisas não correm como queremos e as falhas humanas fazem-se sentir fortemente e nelas fica contemplado todo este atraso. Há esperança de que brevemente tudo será resolvido para bem.
Visitou-nos também o Arquiteto Rui Massada, representante da empresa JFS, que será a construtora da Obra Social. Foram esclarecidos alguns pontos de vista no que diz respeito a documentação necessária para por tudo a funcionar.
A calma e a serenidade que se experimenta por vezes tem os seus sobressaltos. Uma mensagem vinda das irmãs do Lubango – Angola vem dizer que de novo foram assaltadas e desta vez andaram dentro de casa levando as botijas do gás, e outros bens etc.... Até à capela foram. Fiquei aflita. Quis ligar mas ninguém me atendia, até que por fim consegui falar com a superiora da comunidade. Telefonei aos irmãos Capuchinhos, ali quase vizinhos e pedi ajuda para as irmãs. De imediato foram dadas ordens à empresa JFS para reparar o que tinha sido estragado. A ir. Maria dos Anjos mandou arranjar um guarda e a nossa amiga Ana Costa, sempre solicita estava ao lado das irmãs disponível para ajudar. Foi uma graça muito grande, numa casa tão pequenina e não terem ido aos quartos das irmãs. Este sobressalto tem-me levado a ficar mais em contato com as irmãs e a intensificar a oração para que o Senhor as guarde. Para transmitir um pouco mais de segurança, foi para junto delas a irmã Maria dos Anjos e duas postulantes.
O frio continua a visitar-nos, de dia o sol aquece, mas com alguma brandura, à noite fica frio e de manhã nem se fala. Sabe bem andar por estas terras com estas temperaturas tão agradáveis.
A semana decorreu bem e com serenidade chegamos a bom termo dos nossos trabalhos no Sábado com as mais novas e no Domingo com as irmãs professas. Fui aproveitando também para estar com as Noviças de forma a refletirmos um pouco mais sobre a Palavra de Deus.
Surgiu a hipótese de se poder viajar até Quelimane para um encontro com D. Hilário para ver as possibilidades de uma nova fundação em Moçambique. As minhas costas ainda não estavam cem por cento, ir de avião foi uma idéia. Parecia que tudo ia mesmo acontecer, mas aconteceu que a irmã Anunciação tinha o passaporte caducado e viajar assim era complicado e podia trazer alguns riscos. Resolvemos mesmo não ir e nos dias seguintes o Senhor Bispo não estaria.  São as previsões que se fazem e os imprevistos que surgem. A visita a Cumbana ficou assim, para mais cedo do que o previsto.
Porque o senhor José Silva, administrador da empresa JFS, encarregada de fazer a obra social, estava de passagem por Moçambique, vindo de Angola, marcou-se uma pequena reunião com ele e com o arquiteto Rui Massada, para acertar alguns pontos que dizem respeito ao início da obra que se encontra atrasada por causa de documentos  que dizem respeito à legalização da empresa em Moçambique, mas parece que desta vez tudo vai mesmo andar para a frente.  O caminho para Cumbana fez-se muito bem. Ao volante desta vez foi o Frei Pedrito que pediu uma boleia para Inhambane. Fizemos uma paragem obrigatória nas irmãs Clarissas de Chendenguele, diocese de Xai Xai, que estão a iniciar a sua missão, tendo vindo de Lixinga, por causa de alguns diferendos com o Bispo.
 Confesso que fiquei surpreendida e incomodada interiormente.  As irmãs, que vivem num dos espaços onde habitavam os chineses, tendo como habitação as casinhas onde eles moravam. Em Lixinga tinham já construído o seu mosteiro, ali nada tinham, nem segurança, nem água, nem luz, nem vizinhos, apenas a Igreja da comunidade fica perto do lugar onde moram. Encontraram tudo sujo, cheio de capim. Mediram as suas forças e confiadas apenas na proteção de Deus ali vivem nove irmãs, com quatro jovens pré-postulantes, uma de Angola e três de Lixinga. Confesso que deu para fazer uma meditação profunda. Perguntei-me o que tinha acontecido se fossemos nós? Não estaríamos ali, porque o medo e as condições não eram favoráveis. Quando regressamos, com Frei Amaral, voltamos trazendo alguns alimentos para elas. Estava com elas a Abadessa de Luanda, que tinha vindo para incutir força e coragem às suas irmãs. Tomamos um pequeno almoço muito fraterno e ficamos com elas um tempo mais prolongado. Como foi precioso aquele momento, encontrei uma irmã de Barcelos, como o mundo é pequeno! Bom, mas, retomemos a viagem para Cumbana, o tempo fez-se curto, pois o motorista carregou no pedal e em Mavila fizemos a paragem obrigatória, para contemplar os belos palmares de Inhambane e o mar que se avista lá em baixo com uma beleza incomparável. Aí refizemos as forças saboreando a merenda que levávamos, pois o almoço ia ser mais tarde
Eis-nos, chegadas à missão de Nossa Senhora de Fátima de Cumbana, onde nos esperavam as irmãs da comunidade  com  um grupo de três  aspirantes. Um bom almoço, um bom descanso, e como sempre, um bom acolhimento, que nos faz sentir bem porque em nossa casa. Desta vez não encontrei as crianças, pois estavam de férias, o que foi pena, pois elas são a vida a crescer naquele espaço tão acolhedor e tão bem preparado. A temperatura estava fria. Não se tirava o casaco, nem as meias, à noite o cobertor e os soquetes sabiam bem como se estivesse no Inverno em Trás-os-Montes, de manhã era preciso aquecer a água para o banho aligeirado. Parece que nem estou em África, ainda não transpirei nada, desta vez foi mesmo assim, dizem ser o tempo mais frio desde há sessenta anos.
O clima está mesmo a mudar em todo o globo! E com este frio os mosquitos foram muito poucos e benévolos para comigo, o que não é costume acontecer.Reuni as irmãs para agendar o meu trabalho e tudo seguiu com normalidade. Deu tempo para tudo, para ler para rezar, para contemplar a beleza da criação. Num dos dias fomos a Inhambane saudar frei Amaral, que num gesto de simpatia e delicadeza, nos brindou com um passeio turístico, até  praia da barra, uma beleza incomparável, onde molhei os pés nas águas do Oceano Indico. Depois fomos ver os flamingos, uma estância turística que é um sonho, andávamos em cima do mar numa passadeira, e as casas estavam em cima das águas seguras com estacas, como se fossem diques. Foram uns quilómetros fazendo este passeio tão agradável, mas, porque a água era muita e estava fresco, os flamingos não se viram. Pude contemplar o pôr do sol que por entre os palmares se mostrava maravilhoso. Interiormente, dei graças a Deus por tantas e tão belas criaturas.
Durante a estadia em Cumbana tivemos a notícia de que os benditos documentos da emigração estavam cá fora, mas para nosso espanto eram as cópias, pois os originais tinham sido perdidos, bem como a carta de chamada da irmã Anunciação. Isto significava que só na Terça feira sairiam para Portugal em correio registado, que leva mais de uma semana a chegar, não podemos esquecer que estavamos numa sexta feira...
O tempo de regressar de novo a Maputo aproximava-se. Celebramos no Domingo a Eucaristia bem vivida em Cumbana celebrada pelo Frei Anselmo. Na segunda feira na hora marcada o Frei Amaral estava em Cumbana para viajar connosco. A motorista toda despachada pega na chavepara por o carro a trabalhar e qual não foi o espanto quando depois de muitas tentativas o carro não deu de si. Foi necessário pegarem-lhe com força para o acordar e dar umas corridinhas por ali. Sabem o que aconteceu? O frio foi tanto que ficou congelado, para a quecer foi o cabo dos trabalhos, mas lá se resolveu a arrancar. Pelo caminho fizeram-se algumas compras, pois em Maputo tudo fica mais caro e lá  vieram os maracujás, o tomate, a berinjela etc... O carro vinha cheio, pois em Cumbana comprou-se a laranja e a tangerina. Graças a Deus vinha de tudo um pouco, até as couves e alfaces da machamba das irmãs de Cumbana vieram para saborearmos ao longo da semana. A irmã Delsa que tinha ido despedir-se dos pais, pois a sua próxima comunidade será em Portugal, trouxe também alguns mimos doados pelo Papa e Mamã. Frei Amaral primeiro com a irmã Anunciação entoaram uma rapsódia à portuguesa, depois conversou muito e foi lembrando Angola e chamou ainda pelos nomes das irmãs com quem esteve a fazer formação em 2004, mas que boa memória! Chegadas ao controle da polícia, já em Maputo, trocaram-se os motoristas, pois, Frei Amaral diz não gostar de conduzir no meio da barafunda... Chegadas às Maohtas, o portão abriu-se e logo se fez uma grande festa, pois tínhamos uma visita em casa e a irmã Delsa celebrava o seu aniversário, num dia tão marcante e profundo de vivencia espiritual para a família franciscana: Santa Maria dos Anjos, o perdão de Assis.... O almoço, como sempre confeccionado pelas noviças e postulantes, estava um brinquinho. Mostrou-se a casa ao Frei Amaral que não conhecia e depois este foi para a Polana, pois tinha que ir ainda para a Namacha orientar um retiro às irmãs Clarissas que ali têm o seu mosteiro de clausura.
A semana decorreu em preparativos para o grande dia que se aproximava. Fui estando com as noviças todos os dias, depois do pequeno almoço como espaço de preparação para o dia da profissão religiosa. Na Quinta feira foi dia de retiro para as aspirantes, postulantes e noviças. Fiz com toda a comunidade logo de manhã uma reflexão sobre a vida de oração, tendo em conta algumas passagens bíblicas. Porque a sexta feira ia ser muito cheia e não dava para fazermos a vigília da Transfiguração do Senhor, fizemo-la como conclusão do nosso retiro.
 Foi um dia levado com seriedade pelas mais novas, pois as mais velhas tiveram que ir fazer compras, esperar as irmãs Maria Teresa e Lucília que chegavam de Cumbana etc. Todas as noites o sereno da noite era fresco de mais. Os pés sempre frios e toda a gente a tiritar, as manhãs cheias de cacimba e vento, dá gosto ver o sol nascer e o orvalho a brilhar nas rosas do claustro da casa. Na quinta feira, tivemos Eucaristia em casa. O Padre Hilário, ao fim da tarde na celebração da Eucaristia, fez a benção dos hábitos das novas professas, benzeu um paramento novo, bem como um conjunto de alfaias litúrgicas para servir ao altar. Foi uma Eucaristia de bênçãos....
Na sexta – feira, celebramos a festa de Nossa Senhora Mãe de África, um dia muito adequado ao momento celebrativo de admissão ao noviciado e postulantado. Na oração de Laudes, foram as aspirantes a fazer o seu pedido para fazerem a experiência como postulantes, eram três, a Gabriel, a Laura e a Julieta. Nesta manhã dedicada a Maria, o grupo era de sete postulantes. O dia foi de trabalho e preparação para a Celebração da primeira Profissão. Na oração da tarde, fez-se a celebração da Palavra, com a admissão ao Noviciado. Que bonito, ver a família a crescer! Nesta tarde eram oito as noviças da Congregação. Como é bom o nosso Deus, chama e provoca corações para a missão! O testemunho de toda a comunidade é fundamental para a caminhada iniciada. O futuro passa por momentos chaves como este. A casa está cheia pelas costuras. Mas sentiríamos um vazio se tivéssemos casa e não tivéssemos vida a brotar. O Mestre sabe bem o que nos faz falta e a hora certa em que mais precisamos.
O dia da Transfiguração do Senhor chegou, por acaso bem cinzento e frio, com gotas de chuva de vez enquanto, até se estava com receio da mesa posta no claustro por causa do vento e frio que se fazia sentir. Rezamos Laudes, matabichamos e toca de por as mesas, fazer os arranjos e tratar das coisas da capela, para que tudo estivesse perfeito no momento.
Presidiu à celebração o Custódio, Frei Evódio ofm, e com ele estavam frei Amaral, Frei Henrique, frei Paulo, o Padre Hilário e Padre Francisco. Estiveram connosco as irmãs Missionárias de Maria, Concepcionistas, Pilarinas, Apóstolas, Dominicanas do Rosário, Apresentação de Maria e outros amigos convidados para a celebração. De realçar a presença das formandas que faziam parte do grupo das professantes, do ISMMA (Instituto Superior Maria Mãe de África), onde a irmã Eugénia colabora nas aulas de formação intercongregacional.
A celebração foi simples, mas carregada de uma beleza e significado profundo, para toda a comunidade e toda a Congregação. Eram as primícias da casa preparada para receber candidatas à Vida Religiosa no nosso Carisma. À chamada das noviças feita pela mestra, elas respondem com um canto simples: A Tua voz ouvi ó meu Senhor, para fazer a Tua vontade: Eis-me aqui, seja tudo como quiseres: Eis-me Senhor.  Na homilia o celebrante falou da importância da vida consagrada e exortou cada uma à fidelidade, deixando-se transfigurar pela beleza do Rosto admirável de Cristo. A emoção era tão grande, que quase era necessário um lençol para aparar as lágrimas. As danças, os batuques e outras manifestações musicais, abrilhantaram a festa. Escutou-se o: Vós, me seduziste Senhor e eu me deixei seduzir...
 A refeição fraterna não podia ter corrido melhor. Tudo bem confeccionado. Todas participaram dentro dos dons que Deus distribuiu a cada uma das irmãs, mas as madrugadeiras foram as irmãs Delsa, Lucília, e a noviça Yolanda, que às duas da manhã deitaram fogo às panelas e toca de cuidar de tudo para que todas pudéssemos saborear o almoço que estava tão bom! O bolo era lindo e bem feito, mas este ficou ao cuidado do senhor Antoninho um amigo das irmãs desde a primeira hora, que o mandou fazer numa senhora amiga, que trabalha com perfeição em pastelaria. Escolhidas as madrinhas e o champanhista, fez-se o ritual do bolo e todos saborearam e brindaram à felicidade e fidelidade das novas irmãs, que estavam muito bonitas.
A noite chegou e com ela alguma chuva e cansaço à mistura. Havia festa programada, mas foi acordado entre todas que seria no dia seguinte. Decidiu-se que depois do arrumo da cozinha cada uma fosse rezar e descansar, o que foi aceite com agrado.
O Domingo amanheceu com chuva e frio. Havia festa de profissão solene na Polana e de abertura do oitavo centenário do nascimento da Ordem das Irmãs Clarissas.  Toca de retribuir a presença e a força recebida no dia anterior. Lá fomos as novas professas, eu, a irmã Anunciação e Maria Teresa. Uma Eucaristia com muita vida e também muito demorada, quase quatro horas, esquecei-me de dizer que a nossa levou duas horas e trinta minutos. Presidiu o Cardeal José Alexandre dos Santos, ofm. A Igreja da Polana encheu-se de religiosas que partilharam este momento festivo da Custódia de Santa Clara. O almoço foi partilhado, no ginásio da escola Santo António. Uma refeição fraterna e como e como diziam os irmãos: venham connosco conhecer a pobreza franciscana. Não esperamos o corta bolo, fazia-se tarde e regressamos a casa pelas dezasseis horas.
A tarde tornou-se mesmo fria, depois do jantar, tivemos um recreio animado pela gente mais nova. Muito expressivo o teatro e a dança. As neo-professas quiseram partilhar as prendas recebidas e as mensagens enviadas. No fim depois de uns rebuçados atirados ao ar pela superiora da comunidade, fez-se um breve silêncio e as tês irmãs mais novas brindaram-nos com  uma oração de louvor ao Senhor por todo o bem recebido. No silêncio que se vive no claustro, depois de completas cada uma retira-se e vai ao descanso sem barulhos. Sabem, lembrar estas coisas faz-nos muito bem, ouvir o toque do sino a convidar para todos os actos comunitários, escutar a oração de todas as horas liturgicas, experimentar o silêncio vivido na adoração, tudo sem pressas... Não há palavras, aqui o vocabulário termina mesmo...Depois da grande festa, vem aquilo a que aqui chamam de Obediência. Pessoalmente estive com cada uma das jovens professas. Ir a férias era a primeira coisa a preparar neste momento, pois algumas são quase quatro anos que não vão à família, mas só podem ir mesmo quando tiverem bilhete de avião, pois o Kenya será o destino das suas férias, pois aí vivem seus familiares. O destino da Verónica e da Irene será Portugal, a Arminda ficará por Moçambique. Bom o que se pode dizer mesmo é que a casa fica cheia da mesma forma, mesmo sem a irmã Lisete que vai a férias e a irmã Delsa que vai também para Portugal.
São cinco noviças e esperamos que sejam cinco postulantes com a vinda das jovens que estão em Portugal. Casa  cheia... A nossa oração como Congregação tem de ser mais forte para que o Senhor conceda a cada uma o dom da fidelidade e a alegria de pertencer a esta família, servindo o Senhor, como e onde Ele quiser.
O dia D chegou, finalmente, para o arranque das obras. Reunidos todos os documentos necessários, fez-se uma reunião com o representante da João Fernandes da Silva, arquitecto Rui Massada, Engenheiro Bainha fiscal da obra e as donas da obra, as SFRJS. Fez-se numa tarde uma maratona que competia ser distribuida por outras reuniões. Adjudicou-se a obra, assinou-se o contrato, entregaram-se os cadernos de encargo e fez-se a revisão das listas de quantidades e tomaram-se outras decisões importantes, tais como a montagem de paineis solares na obra e na casa já construída. Graças a Deus, chegou ao fim um processo que dura faz quase quatro meses, mas por estes lados tudo leva o seu tempo e é preciso muita paciência e contar com a corrupção que reina nas repartições, que dão muitas vezes os documentos por perdidos e saem depois pela porta do cavalo com uma maquia de dinheiro entregue para que tudo saia dali para fora.
Aproxima-se a hora da partida.  Ainda deu tempo para apreciar a beleza da Baía de Maputo, onde o sol brilhava sobre o azul tão límpido das águas do Índico. E que dizer da sempre apreciável arte africana, que numa extensão de alguns kilómetros se estendia com toda a sua beleza. Deu para apreciar o progresso que se faz sentir na capital.
Tudo preparado para a viajem. Do outro lado do Oceano, não vai haver tempo para férias, pois a vida tem de dar o seu arranque com o primeiro dia de Setembro.
Pela vida, pelo dom da vocação, pela entrega, pelo sacríficio, fica a gratidão e o louvor perene ao Senhor que de todos os lados nos congrega para com Ele fazermos comunidade de amor.
Pelo acolhimento, pela expressão de vida fraterna vivida no seio das duas comunidades, pela comunhão e pela simplicidade de vida, fica o meu khanimanbu... Até mais...

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